Bandidos roubam cabos da Enel no sertão do Ceará
Empresários da indústria e do agro enfrentam este e outros problemas, como o da precariedade de estradas na zona rural
Por mais esforço que faça para conter a ação de bandidos na antigamente tranquila e pacífica zona rural cearense, o aparato policial do estado vem perdendo algumas batalhas. Empresários que atuam no setor da indústria e da agropecuária do Ceará, reunidos ontem, disseram à coluna que a ação dos fora da lei se sofisticou a tal ponto que até cabos de fiação da rede elétrica de alta tensão da Enel têm sido roubados por quadrilhas especializadas nessa muito arriscada atividade.
Eles contaram que, entre Chorozinho e Morada Nova, trecho em que a empresa distribuidora de energia no Ceará constrói uma nova rede, os bandidos, agindo à noite, simplesmente puseram no chão e embarcaram em um caminhão o equivalente a 1 mil metros da fiação. Como essa rede tem três cabos esticados entre os postes de sustentação, o total roubado alcançou incríveis 3 quilômetros de cabos novinhos.
Mas este foi só um dos problemas relatados pelos empresários, que destacaram outros, como o da constante queda de tensão da rede elétrica que abastece a Chapada do Apodi, onde, como todos sabemos, opera um crescente polo agrícola que produz algodão, soja e frutas, incluindo o cacau. Nessa área, cujo solo e cuja clima são dádivas divinas, os pivôs centrais de irrigação e os tanques de resfriamento de leite sofrem problemas por causa das frequentes quedas de tensão da rede de distribuição de energia da Enel.
“Nosso prejuízo é grande”, disse um agricultor com fazenda de produção irrigada de soja e algodão na geografia de Limoeiro do Norte, na Chapada do Apodi. “Quase toda semana, queima um motor dos nossos pivôs centrais”, acrescentou ele com um visível ar de tristeza e decepção.
Uma empresária, que produz fruta e grão no litoral Norte do Ceará, repetiu a mesma toada, narrando que, no seu caso, “a situação é pior, porque estou no fim da linha, ou seja, no fim da rede elétrica, onde a queda de energia já não mais surpreende, causando repetidos problemas aos nossos equipamentos, apesar de toda a boa vontade do pessoal da Enel”.
Mas há outro problema que atrapalha e atrasa a atividade da agricultura e da pecuária, e este também localizado na Chapada do Apodi: a principal estrada da região – que a liga ao distrito de Olho D’água da Bica, na geografia de Tabuleiro do Norte – está deteriorada, e por isto mesmo as empresas transportadoras de carga aumentaram o preço do frete alegando prejuízos causados pelos buracos na rodovia.
A recuperação dessa estrada – contou um dos agropecuaristas presentes à reunião – “foi prometida pelo governo anterior e reprometida pelo atual, mas até agora, nada!”. É por ela que se escoa toda a produção de frutas, grãos e leite e, também, do cimento que é produzido pela Apodi, no lado cearense da Chapada, e pela Mizu, no lado do Rio Grande do Norte.
Esta coluna pode informar que o próprio governador Elmano de Freitas está empenhado na recuperação dessa rodovia, para o que já acionou a Superintendência de Obras Públicas (SOP). Por isto, há “uma boa esperança de que essa recuperação aconteça antes da próxima estação de chuvas; se a estrada for recuperada antes disso, teremos graves problemas no próximo ano”, como advertiu um agroindustrial.
Na mesma reunião, foi lido o texto de uma resolução do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) que tem tudo a ver com o uso da energia elétrica nos estabelecimentos da agropecuária. No horário noturno, é reduzida a tarifa de energia elétrica usada para a atividade de produção agropecuária – a irrigação, principalmente.
A resolução traz uma boa notícia: a possibilidade de o produtor trocar o horário noturno – quando a planta descansa e recusa a água da irrigação – por um período diurno, dispondo da mesma tarifa.
Acontece que as distribuidoras – a Enel Ceará no meio – não veem com bons olhos essa medida. Com todo o respeito a quem pensa diferente: esta coluna entende que as empresas distribuidoras de energia elétrica terão prejuízo com essa troca. Mas a Enel Ceará, pela palavra do seu presidente José Nunes, que falou segunda-feira no Seminário Gestores Públicos – Prefeitos 2025, disse que sua empresa está aberta à conversação com os produtores rurais para tratar do assunto.
O empresariado da agropecuária mobiliza-se no sentido de que seja cumprido o que determina a resolução do MIDR.
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