Aumento da energia: Agro do Ceará levanta suspeitas
Está tudo errado, está tudo irregular, dizem os empresários da agropecuária cearense. As contas de luz do setor foram aumentadas em 32% pela Aneel. Há revolta também contra os serviços da Enel.
Visivelmente irritado e revoltado com a decisão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que determinou um aumento de 24,8% na tarifa de energia distribuída no estado do Ceará, o presidente da Federação da Agricultura (Faec), Amílcar Silveira, falou a plenos pulmões:
“Não serão 24,8% de aumento. Para o setor da agropecuária cearense, serão 32%. Um absurdo. Agora, vejam: para a CPFL (Companha Paulista de Força e Luz), lá de São Paulo, um estado rico, o aumento foi menos de 10%. Por que, para o agro do Ceará, um estado pobre, o castigo foi maior: 32%?”
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Amílcar Silveira, com seu jeito franco de dizer o que pensa, abriu a boca, soltou a voz e falou com o coração de líder do setor:
“Está tudo errado Está tudo irregular. Não suportam o nosso setor, e como se não bastasse, estamos na Faec convivendo com 14.956 produtores rurais que tiveram suas contas de luz com cobrança abusiva. Reconhecendo que realmente essas contas tiveram cobrança indevida, a Enel já devolveu R$ 13,705 milhões, mas nós achamos que é muito mais. Além disso, temos a péssima qualidade do serviço prestado pela Enel, e aí vem a Aneel e nós dá uma pancada na cabeça, que é esse aumento exorbitante. A Faec e a Fiec vão manifestar-se publicamente, por meio de nota, contra esse aumento. Uma das alternativas para combater essa nefasta ação da Aneel é o mercado livre de energia, e vamos caminhar para ele” finalizou Amílcar Silveira.
Por sua vez, o sócio e diretor da Agrícola Famosa, maior produtora e exportadora mundial de melão, empresário Luiz Roberto Barcelos disse a esta coluna que “é um absurdo” o aumento de 24,8% o aumento autorizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para a energia distribuída e consumida no Estado do Ceará.
“Não se pode entender como em um ano de tantas chuvas – que encheram as represas das hidrelétricas do Sul, Sudeste, Centro Oeste, Nordeste e Norte, levando o governo da União a cancelar a tarifa de bandeira vermelha e acionar a tarifa de bandeira verde – possa vir agora a agência reguladora para determinar um reajuste que é mais do que o dobro da inflação de 2021”, disse Barcelos.
O diretor da Agrícola Famosa também fez críticas “ao serviço de qualidade cada vez pior, prestado pela distribuidora, que demora a ligar os transformadores quando nós fazemos o investimento”.
Ele disse que não tem dúvida de que “essa altíssima tarifa causará inflação, o preço dos alimentos vai subir e a população, como sempre, pagará esse conta, além do que o produtor rural será apenado pela redução de sua rentabilidade”.
Para Luiz Roberto Barcelos, a decisão da Aneel “é descabida, inoportuna, descolada da realidade, pois não há nada a justificar uma majoração dessa magnitude, nem a inflação de 2021, que ficou em torno de 10%; então, por que determinar um aumento da tarifa de energia num percentual mais de duas maior do que o da taxa de inflação?”.
Ele sugere que o balanço das distribuidoras e geradoras, inclusive e principalmente as termelétricas, deve ser mais bem examinado, “pois essa decisão da Aneel repercute direta e imediatamente sobre toda a longa cadeira produtiva da agropecuária, cujos produtos encarecerão, naturalmente”.
Já o empresário Luiz Girão, fundador da Betânia Lácteos, empresa líder do mercado de lacticínios do Nordeste, e um dos três maiores produtores de leite do Ceará, não só lamentou a decisão da Aneel, como levantou a suspeita de que ela “representa muito mais os interesses das concessionárias do que os dos consumidores brasileiros”.
De acordo com Luiz Girão, uma investigação profunda revelará que “são fictícias essas tarifas de bandeira vermelha, amarela e verde, mas elas atendem a outros interesses”. Girão indagou por que o preço da energia sobe quando caem os preços de geração de todas as fontes, como a hidráulica, a solar e a eólica?”
Luiz Girão admite que “algo está errado no setor elétrico brasileiro” e chega a sugerir que há algo misterioso na decisão, tomada terça-feira, 19, pela direção da Aneel de aumentar em 24,8% a tarifa de energia no Ceará.
“O TCU deveria examinar, com lente de lupa, as razões que a Aneel apresentou para tomar a decisão de subir o preço da conta de luz do cearense. É tudo misterioso, e esse mistério deve acabar, pois tudo deve ser transparente”, concluiu Girão