Algodão do Ceará: Grupo de Mato Grosso já chegou ao Cariri

Família Brunetta, grande produtora de soja e outras culturas na geografia mato-grossense, comprou 3 mil hectares em Araripe onde, com apoio da Embrapa, plantará soja, algodão e outras culturas

Legenda: Eloi Brunetta (E) e seu filho Gianni, grandes produtores de soja em MT, plantarão algodão na Chapada do Araripe, no Cariri cearense
Foto: Egídio Serpa

Largou com o pé direito o “Projeto Algodão do Ceará”, lançado nesta quarta-feira, 4, em café da manhã no Centro de Eventos promovido pelo Governo do Estado, a Federação da Agricultura e Pecuária (Faec) e a Federação das Indústrias (Fiec): a família Brunetta, grande produtora de soja no Mato Grosso, acaba de adquirir 3 mil hectares no município de Araripe, na Chapada de mesmo nome, no Sul cearense, em cuja área plantará algodão, soja e outras culturas.

Esta informação foi transmitida pelo presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará, Amilcar Silveira, o primeiro a falar no evento. Ao ouvi-la, as 150 pessoas presentes, a maioria empresários do agro de outros estados, prorromperam em aplausos a Eloi Bruneta e ao seu filho Gianni, que prometem fazer “bons investimentos no Ceará”.

O café da manhã foi dividido em duas partes. Na primeira, o presidente da Faec e seu colega da Fiec, Ricardo Cavalcante, e o secretário do Desenvolvimento Econômico, Salmito Filho, saudaram os convidados e repetiram o mesmo discurso, o de que o Ceará, que foi o segundo maior produtor de algodão do país, tem tudo para retomar esse protagonismo, e para isto estão unidos a agricultura, a indústria e o governo estadual.

No segundo momento, os três sócios do empreendimento apresentaram-no aos produtores e consultores em algodão procedentes de vários estados, incluindo o Mato Grosso, que estão aqui participando do Congresso Brasileiro do Algodão. 

Amílcar Silveira abriu as apresentações, falando sobre o ciclo antigo do algodão, que se desenvolveu ao longo do século passado até os anos 80, quando surgiu a praga do bicudo, que dizimou a cultura algodoeira do Ceará e de vários estados produtores, inclusive os da região Sul.

Na época áurea da cotonicultura cearense, operavam na capital e no interior do estado 140 usinas de beneficiamento de algodão, cuja área plantada chegou a ocupar 1,2 milhão de hectares, com uma produção anual que bateu na casa das 150 mil toneladas. 

O presidente da Faec revelou que a meta do Projeto Algodão do Ceará é alcançar, em 2025, uma área cultivada de 10 mil hectares. Para isso, o esforço será concentrado na mobilização dos pequenos produtores, incluindo os da Agricultura Familiar, aos quais o capítulo cearense do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) prestará assistência técnica. A Embrapa Algodão, sediada em Campina Grande e com uma unidade em Barbalha, fornecerá as sementes e transmitirá o conhecimento técnico e científico para o desenvolvimento do projeto, que envolve a correção do solo.

Depois, falou Ricardo Cavalcante, presidente da Fiec, cujo Observatório da Indústria – uma plataforma digital com mais de 7 trilhões de informações sobre a economia do Ceará, do Brasil e do mundo – contribuiu, juntamente com o Centro de Inteligência do Agro, da Faec – para a elaboração do projeto. 

Cavalcante disse que a indústria e o agro estão juntos há muito tempo, lembrando que o campo produz a matéria prima e as fábricas a beneficiam. Ele citou – como exemplo dessa iteração – a fabricação de óleos vegetais e de rações para animais, a preparação e a fiação de fibras de algodão, a tecelagem de fios de algodão e a confecção de vestuário. Essa cadeia tem hoje 2.600 estabelecimentos no Ceará, os quais geram 52 mil empregos diretos.

Em seguida, apresentou-se, representando o governo estadual, o secretário Salmito Filho, que transmitiu novas informações aos atentos produtores de algodão. Começou falando sobre a Ferrovia Transnordestina, que “tem prazo previsto de conclusão no fim de 2026”, devendo ligar a zona de produção de grãos do Sudeste do Piauí ao Porto do Pecém.

Entusiasmado, ele falou sobre o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, comparando-o com a Ilha de Manhattan, em Nova Iorque. Pecém tem o dobro da área de Manhattan, ele revelou. De acordo com o secretário, o Porto do Açu, no Rio de Janeiro, tem 60 Km² de área, enquanto o Complexo do Pecém tem 190 Km².

Ainda segundo o secretário Salmito Filho, as empresas que estão prontas para implantar indústrias para a produção do hidrogênio verde no Pecém estão pagando uma taxa mensal pela reserva do terreno que ocuparão. E disse que, no caso da australiana Fortescue, que até o fim deste ano começará a terraplenar seu terreno, essa taxa é de R$ 250 mil.

Salmito Filho informou que está negociando com uma empresa, cujo nome não revelou, a instalação de uma unidade industrial que produzirá fertilizantes no Complexo do Pecém.

E, para finalizar, mantendo a mão na mesma massa, ele disse que o Ceará também tem fosfato, calcáreo e gesso na mina de Itataia, no município de Santa Quitéria, no Nordeste do Estado. São insumos necessários à fabricação de fertilizantes. 

Por fim, a empresa de tecnologia cearense Fertsan, pela voz do conhecido e respeitado consultor Milton Ide, um dos mais requisitados pelos grandes e médios produtores ao agro brasileiro, disse não ter dúvida do êxito do Projeto Algodão do Ceará, porque aqui há todas as condições para a retomada do protagonismo que o estado teve na cotonicultura nacional.

No final, Milton Ide disse:

“O algodão aprende-se em seis lições: uma por ano”.

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