Algodão do Ceará: a vez dos grandes e dos pequenos produtores

Projeto tripartite do governo do estado, da Fae e da Fiec quer mobilizar, principalmente, os pequenos produtores, incluindo os da Agricultura Familiar, para a cultura moderna do algodão.

Legenda: Os pequenos produtores são o público alvo do Projeto Algodão do Ceará, que será executado pelo Goberno do estado, Faec e Fiec
Foto: Arquivo

Não é uma missão impossível o “Projeto Algodão do Ceará” que, elaborado pelas federações da Agricultura e Pecuária (Faec) e das Indústrias (Fiec), com o declarado apoio do governo do Estado, pretende repetir, neste século, o êxito alcançado nos anos 50 e 60 do Século XX, pela cotonicultura cearense. 

Reparem só nesta notícia, levantada pelo Observatório da Indústria (da Fiec) e pelo Centro de Inteligência do Agro (da Faec), duas plataformas digitais que dispõem de mais de 7 trilhões de informações da economia do Ceará, do Brasil e do mundo:

Quando o Ceará era um dos dois maiores produtores de algodão do país (o outro era São Paulo), alcançando 150 mil toneladas anuais de pluma, a área cultivada aqui chegou à incrível marca de 1,2 milhão de hectares. Para que se tenha uma ideia do que isto significa, basta dizer que hoje o Mato Grosso, sozinho, planta e colhe algodão em 1,4 milhão de hectares, produzindo 6,2 milhões de toneladas. 

Mas a cotonicultura cearense tem uma novidade, que é a seguinte: a produtividade mato-grossense registrada na safra 2022/2023 foi de 1,8 tonelada de pluma de algodão por hectare. É a mesma produtividade que, na Chapada do Apodi, na geografia do município de Limoeiro do Norte, no Leste do Ceará, alcança a Fazenda Nova Agro, do agroindustrial Raimundo Delfino, que – usando as mesmas tecnologias, sementes de alta qualidade criadas, desenvolvidas e fornecidas pela Embrapa e, ainda, praticando a adequada correção do solo, com plantio e colheita mecanizados – alcança tão alta performance. 

O “Projeto Algodão do Ceará” é – do ponto de vista social e econômico – muito ousado. A Faec e a Fiec querem transformar em produtores modernos de algodão os pequenos produtores rurais, aos quais os agrônomos e os técnicos agrícolas do capítulo cearense do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) prestarão assistência técnica. 

E quem bancará os custos de correção do solo e da compra de sementes? Resposta: o empreendimento é tripartite e por isto mesmo mobilizará as duas federações e mais as Secretarias do Desenvolvimento Econômico e do Desenvolvimento Agrário, o quer dizer o seguinte: os três sócios do projeto desembolsarão os recursos necessários à implementação do “Projeto Algodão do Ceará”. 

Com a participação dos milhares de pequenos produtores rurais, que voltarão a plantar algodão com orientação técnica e científica, esperam o governo estadual, a Fiec e a Faec pintar de branco – a cor do algodão – as terras da Chapada do Apodi, do Sertão Central e da Região do Cariri, onde o solo é bom, exigindo boa correção com fertilizantes, e muito boas são as chances de obtenção de ótima produção em sequeiro, ou seja, só com água da chuva, se a chuva vier.

(A coluna abre este parêntesis para levantar uma hipótese: e se os pequenos produtores preferirem ficar como estão, isto é, devagar, quase parando, recebendo os R$ 600 mensais do Bolsa Família e de costas para qualquer proposta de trabalho na roça? Mas esta é só uma hipótese que todos desejamos jamais acontecer.)

O “Projeto Algodão do Ceará” também inclui, com destaque, os pequenos produtores da Agricultura Familiar, o que reforça os seus objetivos, uma vez que se trata de importante segmento do agro cearense que avançou e segue avançando, apropriando-se das novas tecnologias, produzindo segundo as demandas do mercado e reduzindo seus custos de produção. Os agricultores familiares parecem, ainda desconhecer as virtudes econômicas da cotonicultura.

Todavia, plantar algodão nos tempos de hoje é muito diferente do que era nos tempos, digamos assim, românticos, do século passado, em que valia o voluntarismo. 

Agora, tudo é diferente na cotonicultura, a começar pelo tamanho das áreas cultivadas e das empresas e empresários que, investindo muito dinheiro em tecnologia – o que envolve a compra de máquinas e equipamentos operados por controle remoto – fizeram do Brasil o maior exportador mundial de algodão. Este e outros detalhes da complexidade e da grandeza da cotonicultura brasileira, a mais moderna do mundo, pode inibir a iniciativa tripartite cearense.

Esta coluna diz e o repete agora: o melhor do Ceará é o cearense, e ele é capaz de tudo. Principalmente quando todos estão de mãos dadas por uma boa causa, como é esta. 

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