Alerta! Falta de chuva já destruiu 90% do milho no Cariri

Um consultor em agropecuária, diante do que chama de verão fora do padrão, admite que "o sistema de cultivo no semiárido vai ter de mudar". :

Legenda: Por falta de chuva, a produção de milho no Cariri já foi perdida em 90%
Foto: Waleska Santiago

Acendeu o sinal vermelho na agropecuária cearense! 

É a direta e imediata consequência da informação, divulgada ontem, sábado, 26, em primeira mão por esta coluna, segundo a qual o Ceará terá, neste 2022, mais um ano de pouco chuva, segundo anunciou o próprio presidente da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), engenheiro Eduardo Sávio Martins. 

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Em mensagem divulgada ontem por uma rede social, um técnico agrícola, residente em Mauriti, que presta serviços a empresas da pecuária leiteira do Sul do Estado, fez esta revelação logo após tomar ciência do frustrante anúncio da Funceme:

“Aqui no Cariri Oriental (ele cita Brejo Santo, Milagres e Aurora) foi plantado 90% de milho. Pois esses 90% estão todos perdidos. O que a lagarta não comeu, a seca matou. Estamos com 26 dias e as chuvas aqui foram muito irregulares. Já no Cariri mesmo, de Missão Velha pra lá, foi plantado em torno de 100% de milho, e lá tem 80% da safra prometendo. Já nesta parte do Cariri, de Milagres, Brejo Santo, Mauriti, Aurora, Penaforte, Jati, onde pega essas serras, a situação é crítica”.
 
Um consultor em agricultura e pecuária está, igualmente, preocupado com o que há de vir. Ele disse a esta coluna que, diante do que chama de verão fora do padrão, “o sistema de cultivo do semiárido vai ter de mudar. Já estamos com oito anos de pouca chuva”. 

O consultor é bem didático: 

“Este é um sinal perigoso. Estou desconfiado de que, do jeito que vai, as pessoas não vão plantar mais sorgo. No ano passado, foram plantados 80 mil hectares de sorgo, tendo sido perdidos 26% do que foi cultivado. Além disso, perderam-se também 25% da pastagem nativa, e todo mundo ficou ‘cabreiro’, e neste ano estou achando que não vão plantar, com medo de perder. Então, se configurado o quadro prognosticado pela Funceme, poderemos ter o pior ano de produção de forragem (alimento para o gado). Ainda é cedo, mas as configurações não são boas”.

Além da preocupação com a produção agropecuária, a piora do prognostico sobre chuvas para os meses de março, abril e maio – divulgado pela Funceme – agrava também o cenário do abastecimento de água não só para Fortaleza e sua Região Metropolitana, mas para todo o interior do Estado (ao longo do litoral, o quadro é amenizado pelos aquíferos conhecidos, mas mesmo estes ainda não foram totalmente recarregados, pois as chuvas registradas até agora mostraram-se insuficientes).

A boa notícia é que as águas do São Francisco já chegam ao açude Castanhão, mas em volume aquém do necessário. 

Diante do novo quadro pintado pela Funceme, o Governo do Estado, por meio de sua Secretaria de Recursos Hídricos, deve pressionar o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) no sentido de que seja instalada a terceira bomba das estações elevatórias do Canal Norte do Projeto São Francisco (que traz água para o Ceará, a Paraíba e o Rio Grande do Norte), com a qual o volume bombeado para a barragem do Jati saltaria dos atuais 24 metros cúbicos por segundo para 36 metros cúbicos de água por segundo. 

Como a nova previsão da Funceme envolve, também, o Rio Grande do Norte, terra natal do titular do MDR, Rogério Marinho, pré-candidato ao governo do vizinho estado, é muito provável que a solicitação seja atendida.

Há, todavia, uma pedra no meio do caminho: não há nas prateleiras das grandes indústrias metalúrgicas brasileiras uma motobomba desse tamanho para pronta entrega. Ela terá de ser encomendada e fabricada, algo que demorará, no mínimo, 12 meses, se a fabricante conceder prioridade à encomenda. 

O volume de água que está chegando hoje ao açude Castanhão é bastante, apenas, para garantir o abastecimento humano e a dessedentação animal dos municípios da Região Metropolitana de Fortaleza, onde vivem perto de 4 milhões de pessoas.

Consequência: todos os projetos de produção do Hidrogênio Verde (H2V) no futuro Hub do Pecém terão de ser abastecidos com água marinha dessalinizada, e por enquanto não há informações a respeito da instalação de usinas dessalinizadoras na área do Complexo Industrial e Portuário do Pecém.