82 anos: da arte de envelhecer à vocação jornalística

O vocacionado para o jornalismo não se limita ao horário de trabalho da CLT. Ele é repórter nas 24 horas do dia.

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 05:12)
Legenda: Redação do Sistema Verdes Mares (jornal, rádios e tevês), onde cresce uma nova e competente geração do jornalismo cearense
Foto: José Leomar / SVM
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Algumas dezenas de anos antes do nascimento de Cristo, evento que dividiu a história do mundo em Antes e Depois d’Ele, o escritor, tribuno, filósofo e pensador Marcus Tullius Cicero escreveu um tratado sobre “saber envelhecer”, no qual, entre outras muitas coisas importantes que ele assinala, esta é uma delas: “Somos sábios, se seguimos a natureza como um deus, curvando-nos às suas coerções”.

Por que Cicero e seus incomparáveis conselhos estão aqui neste espaço dedicado à economia e à política econômica preferencialmente locais, mas circunstancialmente nacionais e globais? Quem responde, ensina e adverte é o jovem Ayrton Serpa, um belo e inteligente adolescente de 12 anos, que, ao cumprimentar qualquer aniversariante, familiar ou não, costuma dizer: “Parabéns! Cada dia mais perto da morte, hein!” Meu neto não tomou ciência, ainda, de que esta vida terrena é a chance de que dispomos para pavimentar a ponte para a outra vida, a eterna, prêmio prometido aos que combatem o bom combate.   

O mesmo filósofo da Roma antiga escreveu, também, sobre a amizade, considerando-a “a mais nobre cumplicidade no plano das escolhas”. E acrescenta que a amizade é uma virtude só concedida aos homens de bem. Santo Agostinho, doutor da Igreja cristã, sentencia: “Ame e faça tudo o que quiser”, sob o argumento de que o amor é o guardião da paz entre os homens.  

Ao longo de 66 anos dedicados ao jornalismo, percebi – convivendo com dramas humanos em momentos de felicidade e tragédia -- a diferença que há entre os que amam e os que negam o amor ao próximo. E anotei que fazer amigos é uma arte tão difícil quanto à que utilizava o gênio catalão Salvador Dali para criar e pintar seus quadros, alguns dos quais, expostos nos principais museus do mundo, chegam a desafiar a física. Assim como na arte, a tarefa de fazer e cultivar, com êxito, amigos depende das idiossincrasias. 

Estamos todos vivendo e sobrevivendo em um mundo conturbado por guerras, todas elas enraizadas na vaidade dos litigantes, que não querem outra coisa a não ser mais poder do que já têm. Exemplos estão aí, exibidos ao vivo pelas redes de tevê, na Europa, na Ásia, na África e nas três américas, onde pululam os conflitos de origem política, econômica, social e ideológica.  

Na antevéspera de celebrar 82 anos de intensa vida pessoal, dois terços da qual dedicados à carreira de jornalista, sinto-me incentivado a transmitir conselhos aos que, neste momento, iniciam a sua jornada nesta profissão apaixonante, mas, ética e intelectualmente, extremamente exigente. E sua primeira exigência é a da vocação. O que isto significa? Significa que o vocacionado para o jornalismo não se deixa limitar pelo horário de trabalho estabelecido pela CLT, posto que ele ou ela tem de ser repórter ao longo das 24 horas do dia, principalmente agora, dispondo de todos os recursos da mais avançada Tecnologia da Informação, algo que lhe permite transmitir para a sua redação, de onde estiver, aqui ou na China, imagem, som e texto. Ao vivo e em cores, utilizando-se de um simples telefone celular ou de um notebook. 

Como a palavra é sua matéria-prima, outra exigência é dominá-la pela boa gramática e pelo conhecimento dos mais variados assuntos, mesmo que superficialmente, e isto só se obtém pela leitura dos autores clássicos, estrangeiros ou nacionais. Lendo-os, aprende-se a complicada arte de narrar as histórias policiais, esportivas, políticas, econômicas e sociais, sob todas as emoções, da alegria à tristeza. Aprende-se, também, a construir conexões para a livre passagem da amizade e do respeito aos semelhantes, aos animais e à natureza.  

Respeito à hierarquia é outra exigência; boa educação é mais uma; a boa aparência é outra. Elas ocupam um longo cardápio, que repudia a soberba. Nos idos dos anos 60 do século passado, a Rainha Elizabeth, soberana do Reino Unido, visitou o Brasil. Um jornal carioca designou uma equipe de repórteres e fotógrafos para cobrir os eventos da visita. Um deles, irritado porque a segurança de Sua Majestade o impediu de acessar um dos locais a serem visitados, ameaçou o séquito real: “Vou dar um pau na Rainha”. Perdeu o emprego – equivocou-se ao escolher a profissão.  

Quero aqui dar o testemunho de que a geração atual do jornalismo cearense, com as exceções que confirmam a regra, é competente, principalmente nas áreas da política e da economia. A ela quero transmitir meu louvor e admiração. Parabéns a vocês, caros e jovens colegas. 

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