Estudantes cearenses participam de seletiva internacional de Astronomia no Rio de Janeiro

As principais escolas particulares do Ceará também estavam aqui. Contudo, as instituições públicas marcaram presença

Legenda: Fazer a OBA e suas seletivas enriquece a formação pessoal e profissional do aluno
Foto: Acervo pessoal

As olimpíadas científicas estão ficando cada vez mais populares em nosso País. Nesta semana, nos dias 11 a 14 de março de 2024, houve um processo para escolher a Seleção Brasileira de Astronomia. O processo seletivo é realizado pela Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA).

Cinco alunos serão selecionados para participar da XVII Olimpíada Internacional de Astronomia (IOAA, da sigla em Inglês, International Olympiad on Astronomy and Astrophysics) e este ano a responsabilidade é maior porque o evento ocorrerá no Brasil, entre 17 e 27 de agosto. Outros cinco estudantes vão para a Olimpíada Latino Americana de Astronomia e Astronáutica (OLAA) que ocorrerá na Costa Rica, de 25 a 29 de novembro.

Tudo começou com a primeira fase da OBA realizada em maio de 2023 com 1.385.658 (1 milhão trezentos e oitenta e cinco mil, seiscentos e cinquenta e oito) estudantes. 

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A grande maioria dos classificados para a fase seguinte, a fase online, foram alunos do Ensino Médio (do 1º ao 3º ano) que tiraram nota 7 ou superior. Porém, poucos professores e estudantes sabem que a partir do 9º ano do Fundamental já é possível se classificar, caso o aluno tire nota 9 ou superior. Essa nota é mais alta porque a prova do Ensino Médio é mais difícil.

Contudo, a informação pode ser útil para o meu leitor. Já vi vários alunos que gostariam de ter começado a participar dessa olimpíada mais cedo. Geralmente, o aluno que chega à seleção, tentou mais de uma vez. Ao todo, foram 28.967 estudantes classificados.

Depois da fase online, começam as fases presenciais, no Rio de Janeiro, no Hotel Fazenda Ribeirão (cinco estrelas), a 2h42min de viagem a partir da capital do estado. O número de estudantes vai se afunilando. Na abertura, o organizador e presidente da OBA, professor Canalle pediu para que quem veio do Ceará levantasse a mão. Eis a foto que tirei:

Legenda: Nesta fase, os alunos tem provas teóricas nas quais calculam o impulso para viajar de um planeta a outro em um sistema estelar semelhante ao nosso
Foto: Acervo pessoal

Nesta fase, os alunos tem provas teóricas nas quais calculam o impulso para viajar de um planeta a outro em um sistema estelar semelhante ao nosso, usando as Leis de Newton, e até classificam um objeto como estrela de nêutron ou buraco negro, com a Teoria da Relatividade Geral de Einstein.

São duas provas teóricas sendo a segunda mais difícil que a primeira e uma prova de carta celeste cheia de pontinhos, cada um correspondendo a uma estrela que eles deveriam identificar só pela posição. Também tiveram que traçar uma linha na direção da nossa galáxia. Além disso, houve uma prova de planetário para identificar estrelas, galáxias nebulosas e os mares da Lua. 

Como existem alunos que nunca entraram em um planetário, é feito um treinamento antes. Existe a possibilidade de uma prova a céu aberto, mas em março o tempo geralmente é nublado, impossibilitando sua realização.

Outra informação interessante é que foram selecionados 289 alunos, mas apenas 157 conseguiram se inscrever. Houve uma taxa de R$ 1.500,00 de inscrição por pessoa com hospedagem e alimentação por quatro dias inclusos. Contudo, muitos jovens, lamentavelmente não conseguem participar por causa dos custos que vão além das passagens e inscrição. Tem o translado. 

As principais escolas particulares do Ceará também estavam aqui, eu vim representando duas delas. Contudo, as instituições públicas marcaram presença. Aqui eu encontrei estudantes e professores de escolas públicas da nossa terra, como os IFCEs de Maracanaú e Tabuleiro. Eles tem recursos próprios, mas ainda muito apertado como me relataram. Fica aqui o meu apelo por mais recursos para participação em olimpíadas dos institutos federais. 

Quem é de escola pública do estado do Ceará pode conseguir ajuda da SEDUC, é possível, eu já vi. Não é nada fácil, mas eu já vi dar certo. O interessado deve pedir auxílio com antecedência (de 1 a 2 meses). Também existe um teto de gasto do governo para ajuda com viagens com eventos educativos e geralmente acaba em meados do segundo semestre do ano.

Da capital cearense, tivemos a participação gloriosa do Colégio Militar do Corpo de Bombeiros acompanhado pelo meu grande amigo da Astronomia, Capitão Romário Fernandes. Eles conseguiram passagens pela SEDUC para cinco estudantes.

Eu me referi como gloriosa porque uma aluna foi selecionada na segunda chamada da seletiva. Como a turma já tinha solicitado o apoio da SEDUC, ela não conseguiu suas passagens. Então, ela foi no ônibus da corporação em uma viagem de 3 dias e muito feliz. Pra você ver a determinação da estudante Érila Gomes do pelotão especial do CMCB de Fortaleza.

Mas por que a olimpíada é tão importante? 

Além da paixão dos jovens pelos encantos do universo, na seletiva da OBA eles desenvolvem habilidades, principalmente, de Física e Matemática no nível das provas do ITA. Inclusive, quem elaborou as provas teóricas desta fase foi um aluno do ITA, Eduardo Toledo, e dois alunos de Física da USP, Hugo Menhem e Davi dos Santos. Os três olimpianos (eu criei este termo, eles chamam na verdade de ex-olímpicos, mas olimpiano é mais legal).

Também são necessários conhecimentos de geografia, química e desenho geométrico. É a mais completa das ciências e a mais charmosa de todas as olimpíadas. 

Dentre as motivações técnicas, eu destaco uma. Talvez você não saiba, mas existe outra forma de ingressar numa universidade pública além do ENEM.

Algumas universidades disponibilizam vagas olímpicas para medalhistas das olimpíadas educacionais como a OBA. E são universidades boas como USP e Unicamp. Bem que a UFC e a UECE poderiam fazer isso também, não é?   

No âmbito profissional, eu gostaria de contar a história do meu aluno Pedro Pompeu (também, um olimpiano), um dos alunos mais dedicados da Astronomia que já tive. Hoje, Engenheiro Aeronáutico, ele relatou sua participação em olimpíadas científicas durante sua entrevista do primeiro estágio na Embraer.

Para sua surpresa, seu entrevistador também foi um olimpiano. Eu acho que já está mais do que justificada a motivação para participar deste evento. Concluindo, fazer a OBA e suas seletivas enriquece a formação pessoal e profissional do aluno.