O que representa um choro? Alegria, tristeza, a depender da emoção, um misto de sentimentos. Em uma noite histórica o choro descarregou muita coisa, uma delas a certeza de ter acreditado no caminho, onde a ciência apresentou a princípio ao contrário.
Aos 14 anos Saulo Mineiro, atacante do Ceará, escutou a mais dolorosa frase: “Você nunca mais vai poder jogar futebol”, você imagina, um jovem cheios de sonhos, com muitas perspectivas para ajudar a família, sentiu o chão desmoronar para tentar viver com a frustração de um desejo interrompido.
Em 2020, já profissional, Saulo Mineiro chega ao Ceará e com ele novamente a incerteza de brilhar nos gramados. Após exames físicos para iniciar as atividades foi detectado novamente um problema cardíaco que acometeria riscos à saúde em caso de esforços extremos. Talvez pudéssemos imaginar como estaria a cabeça de um atacante, aquele replay de um filme de terror, as dúvidas, incertezas voltando à tona. Saulo novamente submetido a um procedimento de correção de distúrbio de condução elétrica cardíaca.
O atacante chega ao Ceará e fica impossibilitado de atuar, foram dolorosos 40 dias, 21 de outubro de 2020, a estreia com recomeço, ainda com dúvidas e muitas incertezas.
Se o “homem do pratinho” estava com fome de gol, nesta temporada em busca de uma reabilitação no futebol, ele não teve um prato tão cheio. Logo depois de uma rápida passagem no Ceará teve que mudar a cultura, o país, e até o estilo de jogo, uma nova adaptação para as oportunidades que vinham surgindo. Três temporadas no Yokohama FC, time do futebol Japonês, mas a história com o Ceará ainda precisava ser contada de outra forma, talvez com algum ingrediente especial nesse pratinho.
Retornar ao clube como a peça principal para o retorno à elite do futebol nacional, às vezes quando se tem muitas expectativas podem vir as frustrações, ansiedade em ser protagonista, pressão da torcida, com todos esses sentimentos a oscilação na qualidade, a principal de um atacante: pontaria na hora do gol. Essa em alguns momentos ficou desregulada tanto que em 2023 apenas um gol marcado e a permanência na Série B.
Iniciar 2024, um título cearense para dar ânimo para uma temporada difícil, turbulenta fora de campo, procurar apoio para fazer a diferença. Esse apoio veio com milhares de apaixonados, com um público recorde, o maior registrado na Arena Castelão, após a reforma do estádio para a Copa do Mundo de 2014, com 63.908, uma torcida que vem chamando atenção nesta série B e na reta final não poderia ser diferente. Como Saulo Mineiro, um dos grandes nomes do time, poderia corresponder esse amor? Com gols.
O coração valente mostrou força, mostrou que garra, vontade não poderiam ficar de fora dessa luta, se anos atrás o atacante precisou lutar para viver, nesses últimos jogos ele provou que precisava mostrar muita luta para seguir vivo o sonho do tão desejado acesso.
A vida já havia testado Saulo Mineiro de formas cruéis, mas a bola sempre foi seu refúgio. O grito entoado nas arquibancadas “eu acredito” o preparou para os desafios mais intensos, no último jogo em casa, cada suor e cada lágrima inspiraram mais de 60 mil apaixonados que mesmo diante das maiores dificuldades, acreditam que podem alcançar o que parecia impossível.