Lidero uma equipe mais experiente do que eu e estou inseguro: o que fazer?

Escrito por
Delania Santos producaodiario@svm.com.br
Legenda: Insegurança de líderes jovens frente a equipes experientes é tema recorrente de discussões no trabalho
Foto: Shutterstock

A presença de líderes jovens em cargos de gestão é uma realidade cada vez mais comum em diversos setores.

Seja pela velocidade das transformações no mercado, ou seja, pelas novas exigências de inovação, é natural que profissionais ascendam rapidamente a posições de liderança

Isso, porém, cria um cenário desafiador: liderar pessoas mais experientes em idade, tempo de casa ou vivência de mercado exige mais do que competência técnica. Exige sensibilidade, escuta e habilidade de relacionamento. Por onde começar?

O novo líder, especialmente quando mais jovem, enfrenta um duplo desafio: provar sua capacidade técnica e, ao mesmo tempo, conquistar legitimidade diante de uma equipe que, muitas vezes, acumula décadas de experiência e vivência organizacional. 

Nessa situação, é comum que o líder adote uma de duas posturas, ambas extremas e, muitas vezes, prejudiciais: a inibição ou o confronto.

No modo inibição, alguns líderes, na tentativa de serem aceitos pela equipe, acabam se anulando completamente. Embora essa postura parta de uma intenção positiva, ela tende a reforçar a percepção de inexperiência. O resultado? 

A liderança se desequilibra: a equipe assume o protagonismo e passa a direcionar o líder, enfraquecendo sua autoridade.

O líder é percebido como o elo mais fraco da corrente, tem sua competência questionada por pares e superiores, é excluído de decisões relevantes e, muitas vezes, perde o acesso a informações essenciais sobre o andamento das atividades.

No modo confronto, por outro lado, o líder tenta impor respeito por meio da autoridade rígida. Estabelece um modelo top-down, em que as decisões são centralizadas e simplesmente comunicadas à equipe e impõe as mudanças de forma unilateral.

O efeito disso? Um ambiente tenso, queda na produtividade e resistência generalizada a qualquer novo processo.

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Pesquisas em comportamento organizacional, como as conduzidas por Herminia Ibarra, da London Business School, mostram que a autoridade percebida em um líder está menos ligada à idade ou à experiência e mais à sua capacidade de escuta, coerência e clareza de direção. 

Em outras palavras, não se trata de saber mais, mas de saber conduzir, inclusive reconhecendo as contribuições do time. Elementos totalmente divergentes das abordagens acima citadas. 

Complementando essa visão, a neurocientista e professora Lisa Feldman Barrett afirma que a liderança empática, sustentada por uma escuta ativa e pela regulação emocional, tem impacto direto na performance da equipe. 

Em contextos intergeracionais, isso é ainda mais crucial, afinal, o respeito não nasce do tempo, mas do vínculo. Então, por onde começar?

Para liderar com eficácia em ambientes onde a equipe é mais experiente, é importante entender os principais dilemas enfrentados. Essa clareza permitirá encontrar caminhos sustentáveis que estejam alinhados às expectativas dos membros do time.

Quais são os principais dilemas enfrentados por líderes mais jovens?

Assumir uma posição de liderança ainda jovem pode ser desafiador, não apenas pela responsabilidade que o cargo exige, mas também pelos conflitos internos que emergem ao lidar com equipes mais experientes. 

É natural que a insegurança apareça em momentos decisivos e a sensação de solidão na liderança se torne mais intensa.

Entre os dilemas mais recorrentes, destacam-se:

  • Como liderar pessoas que já passaram por quase tudo?
  • Como engajar profissionais que demonstram resistência ao novo?
  • Como conquistar autoridade diante de quem tem mais tempo de estrada?

Essas perguntas não têm respostas simples, mas apontam para necessidades essenciais. A escuta ativa, o respeito às histórias anteriores e a disposição para aprender com o time podem, paradoxalmente, ser as maiores demonstrações de liderança madura. 

O que fazer para engajar a equipe e conquistar a confiança? 

Entenda primeiro!

Conheça a história de cada liderado. Quem ele é, o que faz e o que sabe? Quais cargos ocupou? Quais foram suas contribuições para os resultados da empresa? Por que ele faz o que faz?

Por que você?

O que a empresa espera de você? A resposta a essa pergunta direcionará a atuação do líder, considerando, óbvio, todo o conhecimento obtido com o primeiro passo. 

Ter pessoas muito experientes no time, que já passaram por quase tudo na empresa, pode ser muito bom. O foco principal é liderar e gerir, e não atuar diretamente naquilo em que seu liderado já é expert. 

Demonstre interesse e aprenda a perguntar

Observar com atenção é uma habilidade estratégica. Identificar sinais sutis sobre o que as pessoas ou a situação realmente precisam é uma vantagem, especialmente ao lidar com equipes mais experientes. 

Quando estamos imersos na rotina, é comum deixarmos escapar detalhes que comprometem o sucesso da solução. Por isso, líderes que demonstram interesse genuíno e sabem fazer as perguntas certas se destacam. 

Perguntas como: Quem será impactado por essa decisão? Ou O que ainda não foi considerado? Ajudam a ampliar a visão, envolver o time e conduzir a decisões mais conscientes e eficazes.

Celebre rapidamente e cumpra sua missão

Os primeiros 100 dias do líder são cruciais para o estabelecimento de uma relação de confiança. É neste período que o líder mostra a que veio. Para isso, estabeleça pequenas metas, com baixo esforço e que possam ser celebradas pelo time. 

Comece pelo básico, como, por exemplo, algum processo que pode ser melhorado ou redefinido; ou algo que a equipe solicitou e não recebeu. 

Com essas ações, a liderança intergeracional deixa de ser um dilema e passa a ser uma vantagem competitiva. Quando bem conduzida, essa convivência gera aprendizados que nenhuma escola de negócios ensina. 

Mas, cuidado: mantenha atenção ativa na sua autoconfiança! Liderar uma equipe mais experiente é um convite à maturidade, à escuta e à humildade ativa. Você não está nesse lugar por acaso. 

Sua trajetória, competências e estilo de liderança têm valor. Confie no que levou você ao status que alcançou e siga aprendendo com quem caminha ao seu lado.

Nesta coluna, trarei reflexões sobre carreira, liderança, coaching e tendências que impactam o mundo do trabalho.

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