Quem não lembra dos 'autógrafos de colegas' a cada fim de ano na escola?

Como era bom ver concretizada em suas letras aquelas nossas histórias, detalhes de viver e sorrir

Legenda: Pedaços de poesias, músicas, piadinhas internas, momentinhos de amor
Foto: Dahiana Araújo

Desde criança eu sinto muita saudade. Às vezes é de gente, mas tantas outras é de lugares, paisagens, tempos, instantes. Músicas, poesias. Sinto falta de uns cheiros, até. Penso que sinto essas saudades - desmedidas - talvez porque eu tenha sido uma criança e adolescente muito pensante, mas pouco falante. Por isso, guardei muitos detalhes no peito. De amores, dores e de revoltas, claro!

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E, a cada fim de ano, fecham-se e abrem-se ciclos, muitos dos quais nos deixam essas e outras saudades. E para quem já acredita carregar, de outras vidas, alguns sentimentos, karmas (?), memórias, ou tanto mais do que esteja no nosso destino traçado de agora - isso existe? -, algumas coisas parecem ter sido feitas para aguçar sensações e são verdadeiras "aulas de saudade", as quais temos acesso ao longo da vida. 

Quem não lembra daqueles fins de ano na escola quando a gente "autografava" cadernos ou mesmo camisas da farda dos colegas enquanto eles assinavam os nossos, para depois levarmos para casa, no último dia de aula, e que serviriam de lembranças das nossas histórias? Uma experiência de pele, coração e memória.
 
Fardas recebem autógrafos em aulas da saudade
Legenda: Que saudades dos amigos e amores, dos professores que amei e admirei e também já autografaram - e também poetizaram - em meus cadernos e camisas
Foto: Emilly Sales/Acervo Pessoal
 
Das mensagens que escrevíamos e recebíamos de quem esteve ao nosso lado ao longo do ano, em aulas, jogos, paqueras, brigas, disputas, eventos, risadinhas e fofoquinhas na frente do espelho do banheiro. De quem amparou nossas lágrimas ou nos pediu ajuda. Alguns, colegas ou amigos que nunca mais vimos; outros que estão para sempre perto - ou dentro de nós. 

Pedaços de poesias, músicas, piadinhas internas, momentinhos de amor. Que saudades dos amigos e amores, dos professores que amei e admirei e também já autografaram - e poetizaram - em meus cadernos e camisas da farda. Como era bom ver concretizada em suas letras aquelas nossas histórias, detalhes de viver e sorrir. 

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Hoje, quando penso naqueles momentos de uns tantos anos atrás, sinto saudade, e sinto também que a nossa memória é um dos nossos melhores lugares de existência. Relembrar, para além de reviver, é construir-se feito gente e ter esperança de que a saudade - a boa saudade - é mais uma das formas que a vida nos ensinou para nos fazer eternos na vida um dos outros. 

 

Este texto foi inspirado em conversas e imagens partilhadas entre mim e Emilly Sales, uma amada sobrinha