Ainda muito pequenos, nos ensinaram os tempos dos verbos, conjugações de antes, durante e depois para que pudéssemos nos comunicar por meio das obediências tantas - ou não - da infância. Para mantermos contato com o mundo ao qual somos a todo instante apresentados.
Nos mostraram que, para bem se comunicar, responder e ascender neste mundo - e a ele - era preciso flexionar de maneira correta as terminações. Atravessei, caí, derrubei. Cresço, cumpro, brinco. Vamos todos descobrir.
Desde então, passamos a viver nosso presente entre tempos criados e que a todo instante precisam ser legitimados pelo que temos de concreto ao nosso redor, seja a contagem das horas e dos dias ante o movimento da Terra, Lua e Sol; ou por meio da linguagem que nos torna experiência e mundo, em diferentes horizontes.
Viver nessa travessia de tempos muitas vezes não nos faz perceber que a real definição de passado talvez não exista quando entendemos que tudo o que experimentamos de concreto, afetivo e imaginado permanece em nós a todo instante. Passou, mas aqui está. Venci, no entanto, retorno aos dias da travessia em memória, poesia, fotos e canções. Vou e volto dentro de mim, pelos outros.
Mas o fato de acreditar que o passado dura para sempre não quer dizer que acredito em permanências. Sou, como bem já disse nesta coluna, uma pessoa de esperas e esperanças, e creio muito que coisas, tempos, pessoas e lugares passam, mas nem por isso deixam de existir em nós. Portanto, não estão no passado, apenas foram ou estão, em algum espaço do mundo, ou das nossas histórias.
Guardamos muito de nós em verdadeiras caixas de segredos, de respostas, perguntas e desejos, que, se abertas, revolucionam mentes, corações. Corpos inteiros - ou coisa nenhuma. Caixas internas que viram mundos a avessos - e avanços. Toda forma de existir passa pelo que um dia já foi, ou fomos. E está presente.
Até o passado esquecido nos revela o quanto deixar pra trás algumas marcas refletem o que somos hoje, o que temos, e as estruturas de laços e histórias que vamos erguer, sobre nós mesmos, e sobre as experiências de vida ao longo do caminho. Alguns pelos quais podemos voltar, outros pelos quais não queremos jamais seguir.
Mas a rota dos caminhos ainda está em nós, sabemos que alguns desses locais podemos acessar em espaço físico; outros, visitar entre as dobras de nossas memórias. Imensidões, ou apenas detalhes, do que todos os dias nos transformamos, pois não existe na ideia de passado algo que não esteja em nós, nos nossos. Para sempre… sempre será.