A pergunta foi feita para 50 mil cidadãos em 22 dos 38 estados-membros da OCDE, o clube dos países mais desenvolvidos do mundo. As respostas fazem parte do primeiro relatório “Construir Confiança para Reforçar a Democracia”, divulgado nesta quarta-feira (13), pela entidade.
Apenas 4 a cada 10 pessoas confiam em seus governos (41,4%). Em 2020, o índice era de 51%.
Entre os países em que a população menos confia na liderança nacional estão a Colômbia, com 66,7%; a Lituânia, com 62,3%; Áustria, com 61,4% e o Reino Unido, com 49,2%.
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Já os governos que contam com mais confiança dos cidadãos são o da Noruega (63,8%), da Finlândia (61,5%), Luxemburgo (55,9%) e Irlanda (50,6%).
Um dos graves problemas que a pesquisa mostra é que as pessoas não se sentem representadas pelos governos. Ao contrário, sentem-se “desempoderadas”. Apenas 39,4% dos entrevistados dizem confiar nas instituições legislativas do país, como os congressos nacionais, e só 30,2% acreditam que têm algum poder nas decisões tomadas pelos governos.
E agora você se pergunta, qual é a relevância de todas essas porcentagens? No cenário atual, muita.
O cientista político Nikolas Bozzolo explica que “no cerne da democracia está a participação política constante da população” e alerta para uma tendência internacional de desconfiança.
“Se as pessoas não confiam mais nas instituições e se não se sentem ouvidas pelos governos, cai a confiança em todo o sistema democrático. E isso é um combustível muito forte para movimentos populistas, autocráticos e antidemocráticos, algo que a gente observa em países do mundo inteiro nos últimos anos”, diz Bozzolo.
O quadro de desconfiança pode ser transportado para o Brasil.
“A confiança nas instituições é um pilar essencial para a estabilidade não só da democracia, mas de outros setores da sociedade, como a vida das pessoas no dia a dia e a economia. O mercado preza muito pela estabilidade e a falta de confiança, trazendo a falta de estabilidade, também prejudica a economia. A gente entra num círculo vicioso e o Brasil se encontra nele por diversos motivos. A falta de serviço público de qualidade, a corrupção e a falta de comunicação são constantes em praticamente todos os governos, e um caos político que tem consequências negativas”, explica o cientista político.
Com o relatório, a OCDE quer ajudar os governos a entender onde a confiança dos cidadãos está caindo, em que pontos permanece sólida e o que precisa ser feito para acabar com as disparidades.
São reflexões imprescindíveis para quem tem como objetivo a manutenção da democracia, que podem começar a partir de uma simples pergunta. Você confia no seu governo?
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora