Quanto custa um quilo de frango em Portugal?

Portugal ocupa o 21º lugar no ranking europeu do PIB per capita em paridades de poder de compra (PPC)

Legenda: Venda de carnes e ossadas em frigoríficos de Fortaleza
Foto: Kid Júnior

- “Botei só meio quilo de frango, completei dois com carne de porco”. Foi assim que um amigo, também brasileiro e residente em Lisboa, me contou sobre a última ida ao supermercado. Mas já faz meses que todos estamos sentindo no bolso as mudanças por aqui. Em casa, depois das compras da semana passada, ouvi: - “trouxe também coxas, o peito tá quase seis euros”.

Mais precisamente, hoje, o quilo do peito de frango custa € 5,99 (R$ 31,62) em uma das principais redes de supermercados de Portugal. Em tempo: lembro de quando, até o ano passado, na mesma rede, comprávamos por quatro euros e qualquer coisa.

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Com base em dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), a Deco Proteste, a maior organização de defesa do consumidor em Portugal, monitora o preço da cesta básica do país, que tem 63 alimentos. De 23 de fevereiro, um dia antes do início da guerra entre Rússia e Ucrânia, até a última semana do mês de abril, o valor subiu 10,52%. Hoje, uma família gasta € 202,94 (R$ 1.071,52) com a cesta básica, contra os € 183,63 (R$ 969,56) do final de fevereiro.

Para a Deco Proteste, os aumentos são reflexos da guerra, que agravou o cenário já difícil pela pandemia e seca no país. Rússia e Ucrânia produzem a maior parte dos cereais consumidos na União Europeia. O conflito trouxe “a limitação da oferta de matérias-primas e o aumento dos custos de produção, nomeadamente da energia”, além do “aumento dos preços dos combustíveis”, explica a organização em uma nota.

Coloco os valores em real entre parênteses apenas para ilustrar, já que para comparar moedas corretamente é preciso levar em conta a paridade de poder de compra. E este é o ponto que tem levado os europeus a muita insatisfação com seus líderes.

Portugal ocupa o 21º lugar no ranking europeu do PIB per capita em paridades de poder de compra (PPC). Nesta segunda-feira, 2 de maio, empresários alertaram para o risco de o país se tornar o 4º mais pobre da União Europeia até 2030.

Na França, onde estive no final de abril acompanhando o segundo turno das eleições (pausa para justificar a falta de artigos nas últimas duas semanas com a correria de trabalho por lá), “le pouvoir d'achat” é a maior preocupação da população e será uma das prioridades de Emmanuel Macron para o segundo mandato. No final do mês de março, 74% dos franceses afirmavam ter perdido poder de compra desde 2017, na primeira eleição de Macron.

Hoje, mais do que nunca, nos vemos às voltas com todos estes números e com um cenário econômico global ainda incerto. No Brasil, soma-se a isso a alta da inflação e a queda dos rendimentos. Quem consegue fazer substituições, vai levando assim. Peito por coxas, frango por porco, mas há trocas que ninguém deveria fazer, como por produtos vencidos, ossos, gorduras… Passar fome não é dever bíblico, embora, no Brasil, há quem tente assim justificar.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.  



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