Criptomoeda, lambe-lambe, TV online: como a família Batista comemorou os 100 anos de uma fotografia

Várias gerações de uma família de agricultores viajam de diferentes lugares do Brasil ao sertão do Ceará para (re)conhecer descendentes de seus tataravós

Foto: Arquivo pessoal

Havia certa ansiedade naquele sábado, 26 de agosto. Numa manhã de calor como tantas no sertão cearense, centenas de descendentes chegavam aos montes ao centro social de Várzea Alegre para celebrar o centenário de uma fotografia de família. Na festa viabilizada graças à criação da moeda digital "Mocotó" - uma alusão ao sítio dos patriarcas -, uma réplica da Casa Velha, cenário do simbólico clique feito por um fotógrafo mambembe japonês em 1922.

Valia tudo para evocar e celebrar as memórias da família Batista. Papai André e Mamãe Dondon, os ancestrais, foram recortados da imagem original e ampliados em tamanho real para que os parentes de quatro a seis gerações adiante pudessem ter uma recordação com bisavós, trisavós e tataravós que não conheceram. Ali foram feitos muitos cliques com smartphones, que levaram os patriarcas a praticamente viajarem no tempo até terem suas fotos postadas nas redes sociais.

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Tudo devidamente registrado pela TV Mocotó, um canal na internet que traz dezenas de depoimentos de familiares e que, naquele sábado de sol, transmitia tudo ao vivo, com as bênçãos do padroeiro São Raimundo Nonato, que desta vez dividiu os holofotes de agosto em Várzea Alegre com o megaevento da família Batista. Afinal, para celebrar os 100 anos daquela fotografia, veio gente de praticamente todas as regiões do Brasil.

Legenda: Réplica da fotografia feita há 100 anos
Foto: Flávio Cavalcante

Raimundo Bitu estava animado, quando deixou a cidade pernambucana de São José do Egito e viajou 320 quilômetros até sua cidade natal. Fazia cinco longas décadas que não participava da festa do padroeiro com quem divide o nome.

Desde que a esposa teve um aneurisma e ficou com sequelas na locomoção e na fala, ficou difícil voltar para a tradicional "festa de agosto", mas neste ano, com os filhos já crescidos e o movimento familiar em torno do aniversário da fotografia, conseguiu apoio para cuidar da esposa e viajou. "Saí com 15 anos de Várzea Alegre. Depois disso, voltei algumas vezes, mas nunca numa festa de agosto", conta. 

A saudade que nunca acabou

Raimundo ficou sabendo da festa pela internet. "Achei uma ideia maravilhosa. Sou muito chegado à família", diz ele, que é bisneto de Papai André e Mãe Dondon. "Sempre participava das festas e das moagens. Essa é uma saudade que nunca acabou", diz.

Quem foi ao megaevento familiar, pôde matar a saudade até do gosto do sítio Mocotó. Numa das mesas, rapadura e outras delícias de engenho, para relembrar o da família, que operava há muitas décadas atrás.

Mas em meio a tantas opções instagramáveis, acontecia o que para as famílias espalhadas pelo mundo pode parecer inimaginável: gerações e gerações de descendentes se (re)conhecendo. De gente que não se via há décadas até quem nunca se viu antes, novos elos sendo construídos graças à lembrança de uma fotografia feita numa época de registros raros.

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