Desistência escancara falta de interesse e de projeto do Ceará com o futebol feminino

O Ceará alegou "readequação orçamentária" para encerrar as atividades profissionais de um departamento que teria menos de 2% do orçamento anual

Legenda: Em 2022, Ceará foi campeão da Série A2 do Brasileiro Feminino. Em 2024, o time encerra as atividades profissionais
Foto: Kid Júnior/SVM

Três dias antes do Dia Internacional da Mulher, o Ceará anunciou o encerramento do time principal de futebol feminino. O motivo alegado foi readequação orçamentária. Mas a verdade é que a desistência acontece muito mais por falta de interesse e de um projeto sólido que por falta de dinheiro.

Na projeção orçamentária para 2024, o Ceará estimou que o investimento no Futebol Feminino seria de R$ 1.377.273,33. Uma média mensal de R$ 114.772,78. Este valor equivale a 1,9% de despesas do clube com pagamentos no ano. Este seria o total de gastos com atletas, comissão técnica, coordenação e supervisão. O investimento total seria de R$ 1.525.873,33, que equivale a 1,1% do total.

O investimento do Ceará no futebol feminino em todo o ano de 2024 seria menor que 2% do orçamento do clube.

Isso já dá dimensão de que o principal problema não é por arcar com um custo enorme, que iria comprometer as finanças do clube.

Até porque os valores destinados ao futebol feminino já têm sido reduzido paulatinamente ano após ano, e em duas temporadas, o que era um projeto vencedor se esfacelou.

Em 2022, as Alvinegras não só conquistaram o acesso à elite do futebol feminino do país, como foram campeãs brasileiras da Série A2. Era um projeto promissor, que ainda apontava potencial de crescimento. Porém, no mesmo ano, o elenco masculino foi rebaixado à Série B e tudo mudou.

O péssimo desempenho no futebol masculino respingou no feminino. Como se uma categoria fosse um apêndice da outra. Os investimentos foram reduzidos, a estrutura não foi a mesma, o time ficou sem a devida atenção e os resultados foram terríveis, acumulando goleadas e péssima repercussão nacional.

Isto escancara a falta de interesse e projeto do Ceará com o futebol feminino, que nunca foi uma prioridade da gestão. Poderia, ao menos, se buscar algum tipo de parceria. Ou será que a marca Ceará é incapaz de encontrar parceiros que possam auxiliar a manter um gasto mensal de R$ 114 mil? Que não paga nem o salário de muitos jogadores do elenco masculino.

Mas o caminho mais fácil é desistir. Já que não é obrigatório, abre mão. Depois vê no que dá.

É uma tristeza como o futebol feminino é tratado no Ceará. E o clube já não faz a menor intenção de esconder que este tema nunca foi prioritário.