O Comitê de Política Monetária – Copom do Banco Central, em reunião na semana passada, decidiu pela elevação em 0,5% da taxa Selic (Meta), que agora está em 13,75%. Esta é a décima segunda elevação da taxa de forma consecutiva.
Veja também
O Relatório Focus, publicado ontem, estima, pela mediana, que a taxa Selic deva encerrar o ano de 2022 em 13,75%. Contudo, na leitura mais detalhada das projeções, o mercado sinaliza mais uma elevação na próxima reunião do Copom.
No comunicado da nova taxa Selic de 13,75%, o Copom deixou claro que o aperto monetário deve continuar avançando “em território ainda mais contracionista” e acrescentou que “avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião”. Caro leitor, os trechos com aspas indicam claramente, na opinião deste colunista, que vai ter aumento da Taxa Selic.
Em outros trechos do comunicado, o Copom reitera a estratégia de perseverar no processo de desinflação e na ancoragem das expectativas em torno de suas metas. Logo, reforça a percepção de juros mais altos na próxima reunião, sobretudo pelas projeções de inflação para 2023, que estão acima do limite superior da meta.
Além dos juros mais altos, devemos observá-los em nível alto por mais tempo, de forma a materializar o território contracionista da política monetária. As distribuições de frequência das projeções das expectativas de mercado já apontam para este cenário.
A elevação da taxa Selic promove uma série de efeitos econômicos e financeiros, como na redução da atratividade dos negócios, em função da elevação do custo de capital, além de incentivar os investidores em alocar os recursos na renda fixa em detrimento da bolsa de valores.
A Selic em alta, por ser a taxa de referência do mercado, promove elevação dos custos financeiros nos contratos de empréstimos e financiamentos. Desde o início do ciclo de alta da Selic, os juros das operações de crédito para as pessoas físicas e jurídicas já subiram 9,5% e 8,6%, respectivamente. Os juros médios anualizado cobrado da pessoa física já alcança 50,3%, enquanto as empresas têm juros anuais de 22,4% na média.*
Os juros das operações em alta trazem consigo um ambiente de maior dificuldade para o orçamento das famílias e do fluxo de caixa das empresas, que repercutem naturalmente na inadimplência.
A inadimplência também já está em trajetória de alta. De março de 2021, início do ciclo de alta da Taxa Selic, até o mês de abril, quando temos o dado mais recente da inadimplência, são 14 meses. Caro leitor, neste recorte temporal, sabe em quantos
meses a inadimplência total subiu? Em 10 meses. A inadimplência, somente da pessoa física, subiu em 12 dos 14 meses de ciclo de alta.
Evidentemente, a inadimplência pode decorrer de outros fatores, mas as evidências mostram que a taxa de juros, em grande medida, é a força catalisadora da inadimplência.
Importante lembrar que os efeitos da política monetária mais restritiva, na economia real, ainda não estão em sua potência máxima, por haver certo atraso entre as medidas adotadas pelo Banco Central e os impactos na atividade econômica, no bolso das pessoas e no caixa das empresas.
Por enquanto, o que estamos observando nos juros e na inadimplência são apenas “as cenas dos próximos capítulos” das dificuldades da política monetária restritiva.
Grande abraço e até a próxima semana!
Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.
* Taxa média de juros e inadimplência das operações de crédito com recursos livres – até abril de 2022