A paisagem urbana brasileira ganhou novas nuances com o período eleitoral. A ocupação do espaço urbano, comícios, caminhadas, carreatas e “bandeiraços” são algumas das estratégias na caça por votos. No intraurbano, as principais avenidas e praças transformam-se em territórios disputados pelos cabos eleitorais cuja intenção é tornar seus candidatos mais conhecidos, marcar presença e conquistar o eleitor indeciso. Mas qual é a lógica urbana por trás das campanhas em um país tão grande como o Brasil?
Diferente das eleições municipais, o período atual tem duas escalas que se sobrepõem: a nacional, encampada pelos presidenciáveis; e a regional, retratada na concorrência pelo executivo estadual e pelas cadeiras no legislativo estadual e no federal.
Para o primeiro caso, os presidenciáveis buscam preferencialmente as metrópoles, as capitais estaduais e as médias cidades. Como é humanamente impossível cobrir todas as mais de 5 mil cidades, persistir nas mais expressivas, populacional e economicamente, objetiva “contaminar” o eleitorado nacional com a força da reunião das massas, muito bem simbolizado em eventos políticos em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Fortaleza.
Os candidatos, em complementação, sabem bem da relevância das cidades médias, pois essas invariavelmente localizam-se em regiões com relevantes atividades econômicas e marcadas, principalmente, pela potência do regionalismo nos confins do Brasil. São exemplos, as cidades inscritas nas novas fronteiras agrícolas, zonas do agronegócio e produtoras das commodities.
Nas campanhas dedicadas ao poder estadual, a cobertura municipal é realizável, porém não menos complicada. A regionalização das ações acaba por ser uma boa tática. Tomemos o caso do Ceará para detalhamento.
De certa forma, os pleiteantes aos cargos de governador e de senador selecionam seus alvos a partir de critérios semelhantes aos utilizados pelos concorrentes ao Palácio do Planalto. Inicialmente, buscam “saturar” Fortaleza e as mais importantes cidades metropolitanas. Na sequência, realizam eventos nas duas principais aglomerações urbanas do interior, em destaque, em Sobral e no eixo Crato-Juazeiro-Barbalha. Por fim, não é sábio desprezar, outros núcleos urbanos historicamente decisivos (Crateús, Iguatu, Limoeiro do Norte, Itapipoca, Quixadá, etc.).
Por seu lado, os candidatos ao legislativo agem em territorialidades mais específicas. Apoiados por prefeitos e vereadores, tanto os concorrentes federais como os estaduais focam em conjunto de cidades cuja capilaridade dos apoios locais será mais eficiente na concretização dos votos. Lógico que, quanto maior for a abrangência territorial da influência de um candidato, maior é a possibilidade de seu sucesso eleitoral.
Sem sombra de dúvida, os postulantes ao cargo de deputado e seus apoiadores são os que mais ocupam os espaços urbanos. Primeiro porque estão em maior número, segundo porque carecem de mais propaganda para que os eleitores fixem seus números e reconheçam suas propostas. Além disso, como eles detêm menos tempo de exibição nas mídias, o corpo a corpo nas ruas e nos espaços públicos é pré-condição importante para o sucesso eleitoral.
Mesmo com as redes sociais, fica claro que a disputa política é um jogo e a cidade um dos mais importantes tabuleiros. Seja na escala nacional seja na escala regional, a reconfiguração da paisagem urbana transmite símbolos do campo de forças em momentos eleitorais. De acordo com as leis, esperamos que estas ações evitem a poluição visual e se mantenham nos limites das práticas democráticas.
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