O que é sucesso para você?

Quanto mais diferenciado e inacessível, mais o sujeito alimenta os sonhos dos outros.

Escrito por
Alessandra Silva Xavier producaodiario@svm.com.br
Legenda: Muitas vezes construímos fantasias acerca do que almejamos e daquilo que pode nos fazer sentir especial, reconhecidos, importantes e admirados.
Foto: DimaBerlin/Shutterstock

O desejo de ser visto, reconhecido, admirado encontra na sociedade do consumo e do espetáculo um aliado sórdido. Na busca do pertencimento e da aceitação diante de uma sociedade que chancela o poder financeiro, a influência nas redes sociais, a capacidade de articulações de diversidade de negócios e o empreendedorismo enquanto vias de acesso a uma categoria de status com sucesso no cenário social, muitos serão capturados e oferecerão a vida em busca desse lugar.

O sucesso, assim medido, será sustentado a partir dos bens de consumo, poderio financeiro, ostentação, acesso a padrões e mercado de objetos luxuosos, indiferença social e corrida desenfreada pela competição e superação das escalas de rendimentos e contas com saldos exorbitantes que podem ultrapassar o PIB de alguns países.

Esse sujeito bem-sucedido geralmente ostenta força, usufrui de experiências inacessíveis a boa parte dos mortais e se regozija na inveja que provoca pela distância na qual se encontra dos outros seres.

Quanto mais diferenciado e inacessível, mais alimenta os sonhos dos outros de alcançarem seu posto, sem, no entanto, apontar a impossibilidade desse feito. É vendida a ideia como se esse sucesso fosse acessível a todos, movimentando um mercado de ideias e produtos. Entretanto, esse lugar somente será acessível a poucos 3.028 bilionários no mundo.

Esse lugar idealizado, e possível a uma minoria que não o conquistou somente com foco, força e fé, nem tampouco sozinho, alimenta uma máquina de consumo que vende a ideia de que o sucesso nesse padrão seria possível a qualquer um que tenha determinação e força de vontade suficiente. Imenso engodo fantasiado de possibilidade.

Capturado por essa ideia de sucesso, muitos trabalharão incansáveis, não terão tempo para a família (embora digam que é por eles que buscam tal sucesso, feito cortina para o próprio narcisismo), sacrificarão a saúde, os vínculos, o descanso, e, muitas vezes, a ética. Inebriados por esse ideia de sucesso, sucumbem à perda da própria reflexão sobre o que realmente desejam e o que lhes faz bem e importa.

Por estarmos imersos nessa cultura que nos atravessa cotidianamente, construímos fantasias acerca do que almejamos e daquilo que pode nos fazer sentir especial, reconhecidos, importantes e admirados. Nesse embalo, é possível que não tenhamos parado para sair da hipnose da cobrança produtiva e acumulativa.

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Você já se perguntou qual a sua ideia de sucesso? Será que ela está embasada em pensamentos misóginos (na supremacia do gênero masculino que destila ódio, opressão e agressão às mulheres)? Será que sucesso é nunca ter tempo livre? É devastar a natureza? É nunca ter tempo para se cuidar? É acumular riquezas, independentemente de como isso seja obtido e das consequências que gera?

Será que sucesso é viver pensando no trabalho o tempo todo? Será que sua ideia de sucesso é uma vida solitária? Será que sucesso é ter milhões de seguidores? Será que sucesso é ter muitas pessoas sob o seu domínio? Será que sua ideia de sucesso contempla ser amado? Ter amigos que se importem com você? Ser uma pessoa solidária?

Será que ter sucesso é ser respeitado pela sua sabedoria e contribuição para um mundo melhor? Será que sucesso poderia ser tornar-se um bom pai, uma boa mãe, um bom amigo, um bom profissional, um bom vizinho?

Será que sucesso envolve dignidade e pensar em uma vida que não envolva somente valores materiais? Será que sucesso envolve honestidade? Contribuir com a vida de outros? Será que sucesso envolve ser capaz de se encantar com os detalhes, com a delicadeza, admirar arte?

A sua ideia de sucesso contempla quantas ilusões? Ela lhe adoece ou lhe impulsiona a uma vida de cuidados, solidariedade, amor e saúde?

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.

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