Operação no Jacarezinho: relatório de inteligência da Polícia Civil troca local de ao menos 2 mortes

Dois supostos confrontos aparecem no documento com um morto a mais cada do que o indicado nos respectivos boletins de ocorrências

Escrito por Italo Nogueira e Júlia Barbon/Folhapress ,
Operação no Jacarezinho, Rio de Janeiro
Legenda: Em outros dois casos, há uma vítima a menos no relatório do que nos registros feitos na Divisão de Homicídios (DH)
Foto: AFP

O relatório de inteligência da Polícia Civil alterou o local de ao menos dois óbitos provocados por seus agentes na operação do Jacarezinho, que terminou com 28 pessoas mortas na semana passada na zona norte do Rio de Janeiro.

Dois supostos confrontos aparecem no documento do setor de inteligência da Polícia Civil com um morto a mais cada do que o indicado nos respectivos boletins de ocorrências. Em outros dois casos, há uma vítima a menos no relatório do que nos registros feitos na Divisão de Homicídios (DH).

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A Folha revelou, na manhã desta sexta-feira (14), a existência de um erro, reconhecido pela Polícia Civil. A corporação não comentou o novo equívoco identificado.

Os boletins de ocorrência foram registrados na DH no dia 6, o mesmo da operação. O relatório da inteligência foi concluído três dias depois.

Produzido como uma espécie de balanço da operação, a mais letal da história do Rio de Janeiro, o relatório foi distribuído para diversas unidades das forças de segurança do estado, entre elas a Divisão de Homicídios, que apura o caso por parte da Polícia Civil.

Força-tarefa

O documento também foi enviado ao Ministério Público estadual, que montou uma força-tarefa para apurar de forma independente o massacre.

O número de pessoas mortas num local interfere no trabalho de tentar reproduzir a dinâmica dos supostos confrontos. A eventual troca de local de corpos também altera a análise da trajetória dos tiros disparados.

Equívocos

A Folha questionou a Polícia Civil na quinta-feira (13) sobre o erro na descrição de dois supostos confrontos no relatório - um com vítima a mais, e outro a menos.

A corporação afirmou que havia se tratado de um erro de digitação no documento. "Já está sendo corrigido o equívoco de uma unidade numérica", afirmou a nota.

Procurada nesta sexta-feira (14) para comentar o novo equívoco identificado, a polícia não havia respondido até a publicação desta reportagem.

Entenda o caso

A operação no Jacarezinho teve como objetivo, segundo a Polícia Civil, o cumprimento de 21 mandados de prisão contra pessoas denunciadas sob acusação de associação ao tráfico de drogas.

O vínculo com a facção criminosa foi estabelecido por meio de fotos com armas em redes sociais.

Confronto

A troca de tiros perdurou por mais de cinco horas. Os policiais invadiram ao menos cinco casas de moradores atrás de supostos bandidos.

Homens em fuga pularam lajes das residências. Ao fim do dia, ruas e casas da favela estavam repletas de marcas de sangue.

Mortes

Dos 28 mortos, um era policial civil e 27 pessoas que, de acordo com o Estado, atiraram contra os agentes.

Três dos mortos eram alvo dos mandados de prisão. Segundo a Polícia Civil, todas as vítimas tinham antecedentes criminais, alguns deles antigos, ou vínculo com o tráfico confirmado por parentes.

Prisões e apreensões

Seis pessoas foram presas - sendo que três eram alvo de mandados expedidos pela Justiça– e foram apreendidos na operação cinco fuzis, uma submetralhadora, duas espingardas, 16 pistolas e 12 granadas.

A Defensoria Pública afirma que há relatos de mortos que haviam se entregado para a polícia antes de serem baleados. Além disso, critica o desfazimento das cenas dos crimes antes da realização de perícia.

Relatório de inteligência

O relatório de inteligência indica as pessoas apontadas como lideranças da facção criminosa que atua no Jacarezinho, os policiais mortos na favela, o objetivo e os resultados da operação, e os antecedentes criminais das vítimas dos confrontos.

Ao descrever os mortos pela polícia, o documento os relaciona com os boletins de ocorrência registrados na Divisão de Homicídios da capital. Assim, foi possível cruzar os nomes com os locais dos óbitos.

LISTA COM NOMES DAS VÍTIMAS

  1. André Leonardo Frias - policial
  2. Jonathan Araújo da Silva
  3. Jonas do Carmo Santos
  4. Márcio da Silva Bezerra
  5. Carlos Ivan Avelino da Costa Junior
  6. Rômulo Oliveira Lúcio
  7. Francisco Fábio Dias Araújo Chaves
  8. Cleyton da Silva Freitas de Lima
  9. Natan Oliveira de Almeida
  10. Maurício Ferreira da Silva
  11. Ray Barreiros de Araújo
  12. Guilherme de Aquino Simões
  13. Pedro Donato de Sant'ana
  14. Luiz Augusto Oliveira de Farias
  15. Isaac Pinheiro de Oliveira
  16. Richard Gabriel da Silva Ferreira
  17. Omar Pereira da Silva
  18. Marlon Santana de Araújo
  19. Bruno Brasil
  20. Pablo Araújo de Mello
  21. John Jefferson Mendes Rufino da Silva
  22. Wagner Luiz Magalhães Fagundes
  23. Matheus Gomes dos Santos
  24. Rodrigo Paula de Barros
  25. Toni da Conceição
  26. Diogo Barbosa Gomes
  27. Caio da Silva Figueiredo
  28. Evandro da Silva Santos

 

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