Criado em 2016 no Ceará para acelerar o julgamento de crimes dolosos contra a vida, o Programa Tempo de Justiça se consolida a cada ano. No último ciclo, o projeto já atingiu 93% da meta, de acordo com dados do Ministério Público do Ceará (MPCE) do fim de setembro de 2024, e a expectativa do Órgão é chegar ao sucesso completo até o fim do próximo mês de novembro.

Entre 28 e 31 de outubro do ano corrente, o Diário do Nordeste irá publicar uma série de reportagens sobre o Programa Tempo de Justiça.

Um total de 69 processos, de crimes ocorridos em Fortaleza entre janeiro e outubro de 2023 (último ciclo analisado pelo MPCE), já foi julgado pela Justiça do Ceará, em um prazo de 400 dias. O que representa 93% de sucesso, da meta de julgar 74 ações penais - número que, por sua vez, significa 30% dos 246 processos incluídos no Programa Tempo de Justiça, no período.

A promotora de Justiça Mônica Nobre, que representa o Ministério Público na 3ª Vara do Júri e no Comitê Gestor do Programa Tempo de Justiça, analisa que "essa meta é bastante ousada e arrojada, porque o próprio CNJ (Conselho Nacional de Justiça) tinha feito um estudo de que os crimes dolosos contra a vida tinham um prazo aproximado de oito anos para serem julgados pelo Tribunal do Júri, no Brasil. E a gente conseguiu julgar esses processos no Ceará em pouco mais de um ano". 

246 processos
por crimes dolosos contra a vida (homicídios, tentativas de homicídio ou feminicídios) foram incluídos no Programa Tempo de Justiça, entre janeiro e outubro de 2023. A meta do Programa é julgar 30% do número de processos recebidos, o que representa 74 ações penais. Até o fim de setembro de 2024, foram julgados 69 processos (93% da meta).

De acordo com o portal Justiça em Números, do CNJ, os processos por crimes dolosos contra a vida são julgados no Brasil em um prazo médio de 2.594 dias (equivalente a 7 anos e 1 mês). 

Em entrevista ao Diário do Nordeste por e-mail, o assistente de Unidade Judiciária do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), Israel Landim, listou os objetivos do Programa Tempo de Justiça: 

  1. Reduzir o tempo de tramitação dos processos de crimes dolosos contra a vida, com autoria esclarecida, em trâmite nas Varas do Júri, desde o início das investigações até o julgamento; 
  2. Fortalecer a coordenação entre as instituições do sistema de Justiça criminal (Judiciário, Ministério Público, Defensoria, Delegacias e PEFOCE); 
  3. Garantir maior efetividade na resolução dos casos, diminuindo a sensação de impunidade; 
  4. Aumentar a confiança da população na Justiça criminal. 

Um dos processos julgados em menos de 400 dias, no último ciclo analisado pelo MPCE, resultou na condenação de Weefemberg de Assis Souza a 28 anos e 10 meses de prisão, a serem cumpridos em regime inicialmente fechado, pela acusação de matar por estrangulamento a ex-companheira, Janaína Morais da Costa, na frente de dois filhos da vítima.  

O julgamento ocorreu no dia 3 de julho deste ano, na 3ª Vara do Júri de Fortaleza, apenas 248 dias depois do crime (ou seja, em menos de um ano). O homicídio foi registrado no dia 29 de outubro de 2023, na Rua Alves de Lima, bairro Cristo Redentor, em Fortaleza.

245 dias
depois do assassinato de Bergson Mariano da Silva, o acusado pelo crime, Peric Evandro da Silva, foi julgado e condenado à prisão, em Fortaleza.

Já o júri popular que condenou Peric Evandro da Silva a 14 anos de prisão, realizado na 4ª Vara do Júri de Fortaleza no dia 4 de abril deste ano, ocorreu em menos tempo ainda: 245 dias depois do crime.  

Peric foi denunciado pelo Ministério Público do Ceará por matar Bergson Mariano da Silva, de 26 anos, portador do Transtorno do Espectro Autista (TEA). A vítima teria presenciado o réu discutir com uma criança, dito que ia chamar a Polícia e atirado uma pedra contra o acusado, no dia 3 de agosto de 2023, antes de ser assassinado a tiros.

O que é o Programa? 

O Programa Tempo de Justiça foi lançado em 2016, como parte do Pacto por um Ceará Pacífico, a partir de uma parceria entre Vice-Governadoria do Estado, Poder Judiciário, Ministério Público do Ceará, Defensoria Pública Geral do Ceará e Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS). 

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Legenda: A promotora de Justiça Mônica Nobre participa do Comitê Gestor do Programa Tempo de Justiça
Foto: Davi Rocha

O MPCE atua no Programa Tempo de Justiça com os promotores de justiça lotados nas cinco Varas do Júri de Fortaleza, que acompanham os processos criminais, formulam as denúncias e representam o MPCE nos julgamentos. Os promotores também podem pedir novas provas da investigação, para a Polícia Civil do Ceará (PCCE) ou para a Perícia Forense do Ceará (Pefoce) - órgãos vinculados à SSPDS. 

Temos também uma Força Tarefa, que nos auxilia para serem realizados esses julgamentos. E participamos das reuniões do Comitê Gestor do Programa, para a gente avaliar resultados e analisar em que fase os processos se encontram e se precisa de uma manifestação do Ministério Público, para a gente alcançar a meta dos 400 dias."
Mônica Nobre
Promotora de Justiça do Ministério Público do Ceará (MPCE)

Já o Tribunal de Justiça do Ceará é “responsável por dar celeridade ao andamento processual e priorizar os casos incluídos no programa”, segundo o servidor Israel Landim.  

"A participação do TJCE se dá por meio de uma força-tarefa composta por desembargadores, juízes, servidores e outros colaboradores que atuam diretamente nos processos em trâmite nas Varas do Júri e nas Câmaras Criminais. Há mobilizações especiais, como mutirões de julgamento, além de um monitoramento contínuo dos casos”, detalha o assistente de Unidade Judiciária do TJCE, Israel Landim.

A promotora de Justiça Mônica Nobre avalia que “o Programa Tempo de Justiça tem tido um resultado fantástico. Não é à toa que nós temos recebido, inclusive, comitivas de outros estados, que querem levar esse Programa para os seus estados. É uma satisfação saber que a gente está obtendo esses resultados almejados e entregando para a sociedade um julgamento rápido, que é o que familiares esperam quando perdem um ente querido". 

O assistente judiciário Israel Landim reforça que “o Programa Tempo de Justiça tem grande relevância no cenário nacional como um exemplo de inovação na gestão de processos criminais e combate à impunidade. Ele serve de modelo para outros estados que buscam implementar políticas semelhantes para enfrentar o acúmulo de processos e melhorar a resposta do sistema de Justiça em crimes violentos”.

Foto principal: Alex Costa/ Divulgação TJCE

Créditos

Messias Borges Repórter
Davi Rocha Fotógrafo
Emerson Rodrigues Editor de Segurança
Karine Zaranza Coordenadora de Jornalismo
Ívila Bessa Gerente de Jornalismo
G. André Melo Gerente Audiovisual
Gustavo Bortoli Diretor de Jornalismo