O brilho nos olhos e um largo sorriso entregam a felicidade da doadora Lucilene Ribeiro de Azevedo, de 46 anos. Ao lado dela, a razão dessa alegria: o marido Genyson Pereira da Silva, de 37 anos, esbanjando saúde depois que recebeu um dos rins da esposa. O transplante foi realizado no dia 30 de junho deste ano, no Hospital Universitário Walter Cantídio, em Fortaleza, e encerrou uma longa jornada de sete anos e meio de hemodiálise.
“É como se eu estivesse revivendo junto com ele. É muita felicidade para mim saber que deu certo. É bom fazer o bem, a gente se sente bem com isso”, reflete Lucilene. Ela conta que, deste o início do tratamento, faria de tudo para melhorar a saúde do esposo e, mesmo sem saber que seria compatível, ofereceu o seu órgão. No fundo, sabia que daria certo. “No dia em que ele descobriu que era crônico renal e tinha que fazer hemodiálise e a única forma de ter vida normal seria fazer um transplante, eu me candidatei, mesmo sem saber se era compatível”, revela convicta.
Como foi orientado pelos médicos, a busca por doadores vivos começou pelos parentes de primeiro grau. Mas não havia na família dele quem fosse compatível. A intuição de Lucilene estava correta: ela seria a doadora. “Desde a primeira vez que disse que iria doar, tinha certeza de que seria eu. É como se fosse coisa de mãe”, explica, segura de que, encorajada pelo amor, não haveria motivo para ter receio de abrir mão de um dos rins.
“Eu me ofereci no primeiro momento, porque sempre quis resolver ou pelo menos tentar amenizar o problema. No dia em que ele descobriu que tinha esse problema de insuficiência renal eu já me prontifiquei, sempre estive no ponto para doar. Sempre tive coragem e vontade”, assegura a doadora.
A prontidão da esposa foi uma resposta do propósito feito por Genyson no momento em que soube que precisaria de transplante renal. “Eu tinha feito um acordo comigo mesmo, sem dizer para ninguém, que eu nunca iria pedir doação a algum parente. Se viesse, que fosse de coração, não porque eu estava pedindo”, conta o marido de Lucilene. A coragem dela lhe chamou atenção. “Ela se prontificou mais do que meus próprios irmãos. Nunca demonstrou medo. Eu percebia que eles tinham medo”, entrega Genyson.
“Marido não é parente”
O ato de fé e coragem de Lucilene foi reprovado por muitas pessoas ao longo da jornada de acompanhamento do marido. “As pessoas me chamavam de doida. Teve uma que falou para mim: ‘ah, marido não é parente, não é de sangue, não é nada; hoje é seu e depois não é’. Eu disse: independentemente de qualquer coisa eu estou doando por amor ao próximo”, conta a esposa. Até mesmo relatos desencorajadores sobre como ficaria a saúde dela após o transplante não a desanimaram. “Teve uma mulher que falou para mim: ‘minha filha, não faça isso porque você nunca mais vai ser a mesma’. E hoje, 36 dias depois da cirurgia, posso dizer que sou a mesma, não estou sentindo nada. Nunca pensei que algo fosse acontecer comigo, sempre achei que daria certo”, afirma.
A alegria de saber que ficou tudo bem após o transplante também é compartilhada pelo marido. Genyson conta que o rim da esposa, ao ser transplantado para o seu corpo, funcionou melhor do que esperado. “Eu não fui para a UTI. Fiz a cirurgia e já desci para a enfermaria, porque o rim já funcionou automaticamente. Minha alta foi com sete dias, que não é uma coisa normal, e não precisei fazer hemodiálise. Meu organismo estava aceitando bem. Os médicos até me deram parabéns no centro cirúrgico”, conta, satisfeito.
Casados há 10 anos, Genyson e Lucilene são da cidade de Amarante, no Piauí. De lá, Genyson percorria 160 km até Teresina, três vezes por semana, para passar quatro horas fazendo hemodiálise. Chegou a ser consultado por médicos em São Paulo, mas foi aconselhado a fazer o transplante em Fortaleza. Foi aqui que chegou ao fim a longa caminhada contra a doença renal, graças ao amor e à coragem da esposa. O que mudou no casamento após o transplante? “Hoje eu me preocupo mais com ela do que comigo, devido ao que ela fez por mim”, assume Genyson. “Para mim, não mudou nada”, afirma Lucilene, categórica. “É natural. Ele é uma parte minha. Foi como se tivesse que doar para um filho, um irmão. Eu tenho coragem e doaria para o próximo. Se eu tivesse que ser a salvação de alguém, eu doaria”, afirma.
Dúvidas
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