Hormônio do amor

O que o abraço, o orgasmo e a amamentação têm em comum? A ocitocina. Conhecida como o hormônio do amor, ela também é responsável por estimular contrações uterinas que auxiliam no trabalho de parto. Entenda como age o hormônio nas gestantes.

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(Atualizado às 09:12)
Foto: Denise Marçal

Sabe aquela sensação reconfortante que o abraço de uma pessoa amada proporciona? A responsável por ela é a ocitocina, um hormônio produzido no hipotálamo e armazenado na neurohipófise. Durante o orgasmo, ele também está presente, ocasionando, inclusive, o aumento das contrações uterinas. Atenção, grávidas.

Como explica a médica Laura Helena Araújo, ginecologista, obstetra e Coordenadora do serviço de Obstetrícia do Hospital São Camilo Cura D´Ars, a ocitocina mantém níveis constantes durante a gestação, aumentando a produção durante o parto. “Os receptores de ocitocina na musculatura do útero são poucos, mas, no fim da gestação, aumentam de número em até 100 vezes", afirma.  

É durante o trabalho de parto que a ocitocina age como grande aliada do nascimento do bebê por via vaginal. “Os níveis de ocitocina aumentam e estimulam as contrações do útero, desencadeandoo trabalho de parto. Ao longo do processo, produzem uma pressão da cabeça do bebê sobre o colo do útero, fazendo com que a dilatação aumente e o bebê consiga nascer”, explica Laura Helena Araújo. 

O que colabora para a produção de ocitocina pelo organismo é tudo que proporciona à mulher relaxamento e prazer. Relações sexuais podem ser uma das formas (confira matéria sobre sexo na gravidez) de estimular a liberação da ocitocina, como explica ginecologista e sexóloga Rayanne Pinheiro. "É sabido que estímulos genitais e dos mamilos da mulher gestante a termo (ao final da gestação) aumentam a liberação do neurotransmissor ocitocina que induz contrações uterinas. Assim, alguns profissionais de saúde defendem que isso pode ser um método natural e auxiliar no estímulo ao início do trabalho de parto. No geral, não há evidências científicas que apoiem essa teoria. Entretanto, a prática não parece ser prejudicial em pacientes com gestações de baixo risco”, argumenta Rayanne Pinheiro.

Além do prazer sexual, há outras formas de manter os níveis de ocitocina satisfatórios durante o trabalho de parto. Um ambiente tranquilo e apoio emocional também contribuem. Por outro lado, tudo que cause certo estresse à parturiente dificulta o trabalho do hormônio do amor. “O estresse pode inibir a produção hormonal pela hipófise", afirma Laura Helena Araújo. 

Sem adrenalina

Como pontua Emanuela Gomes Falcão, enfermeira obstetra e doula do Grupo Jasmim para Gestantes, a ocitocina, quando liberada pelo cérebro, é captada por outro hormônio, a melatonina. No entanto, quando a mulher passa por fatores estressores, outro hormônio concorre com a ocitocina no útero: a adrenalina. “A adrenalina e a ocitocina ocupam o mesmo espaço, que é o receptor no útero. Então, é por isso que a gente tem que deixar a mulher segura, tranquila e controlar a ansiedade, porque se ela aumenta o nível de adrenalina, consequentemente, está diminuindo ou concorrendo com a ocitocina”, explica a enfermeira, também professora da especialização em Enfermagem Obstétrica da Universidade Estadual do Ceará.

Situações como medo, frio e qualquer coisa que deixa a mulher mais ansiosa podem diminuir os níveis de ocitocina da parturiente. Como observa a enfermeira, pode acontecer de a gestante chegar plena de ocitocina na maternidade, mas, se o ambiente não for favorável, esses níveis podem diminuir.

“Quando a mulher está em casa, ela se sente segura, com a luz que está acostumada, com o cheiro que está acostumada, com as pessoas do seu ambiente. Quando chega no hospital, com outra luz, outros cheiros e pessoas estranhas, tudo isso são fatores estressores e a mulher vai liberando adrenalina”, observa Emanuele Gomes Falcão. “O que vai aumentar a produção de ocitocina é a segurança, o empoderamento da mulher no trabalho de parto”, acrescenta a especialista.

Palavra de médica: Amamentação

Legenda: Dra. Laura Helena Araújo

De acordo com Laura Helena Araújo, após o nascimento do bebê, os altos níveis de ocitocina são responsáveis por reduzir o sangramento no pós-parto, prevenindo a mulher de sofrer hemorragias. “Também é responsável por iniciar a ejeção de colostro imediatamente e de leite materno futuramente, tão importantes para a imunidade do recém-nascido. Estudos também evidenciam a influência da ocitocina no desenvolvimento do vínculo mãe-bebê”, acrescenta a médica. Todo o encanto da amamentação não é por acaso. A cada mamada, o cérebro feminino libera ocitocina que, além de contribuir para a contração das glândulas mamárias e a ejeção de leite, causa uma profunda sensação de prazer materno. Isso acontece porque o hormônio age nas células cerebrais do sistema límbico, relacionado às emoções. “Quando a mãe está amamentando, existe a troca de carinho entre ela e o bebê no peito”, observa Emanuela Gomes Falcão. “A troca de olhar, toda essa energia, essa simbologia de segurança, faz com que a mulher libere mais ocitocina”, completa a enfermeira obstetra. E, assim, o bebê vai sendo nutrido com leite e amor.