Urgência das vacinas

O Ceará começa o dia com mais 115 mil doses de vacina da CoronaVac, desembarcadas no fim da noite de ontem, em Fortaleza. O objetivo é evidente: intensificar a campanha de vacinação, inclusive com a abertura de novos postos de atendimento e ampliação do horário de funcionamento. Há uma força-tarefa, dentro dos limites possíveis, contra o tempo e contra a mortalidade por Covid-19. O esforço, porém, não esconde a lentidão do Brasil rumo a uma ampla cobertura vacinal.

Até o dia 4 de fevereiro, cerca de três milhões de brasileiros foram vacinados, atingindo cerca de 1,4% da população, que é de 211,8 milhões de pessoas. Há um atraso evidente, enquanto a população pede, cada vez mais, respostas urgentes. O Brasil tem experiência em vacinação massiva. Em 2010, em meio ao surto de H1N1, quase 80 milhões de pessoas foram vacinadas em cerca de três meses - um média de quase 1 milhão de pessoas imunizadas por dia. No ritmo atual da vacinação contra a Covid-19, o País levaria mais de quatro anos para ter toda a sua população imunizada - cálculo feito pelo microbiologista da Universidade de São Paulo (USP), Luiz Gustavo de Almeida. É um prazo inadmissível para tão grave problema.

Uma maior agilidade na execução do plano de imunização ajudaria a evitar novos casos e novas mortes. Estima-se que quase a totalidade das pessoas que podem ser vacinadas precisem receber a vacina para que a doença perca força e chegue ao fim a pandemia. Levantamento do Lowy Institute, um centro de estudos baseado em Sydney, na Austrália, apontou que o Brasil foi o país que teve a pior gestão pública durante a pandemia, entre 98 países. A crise na gestão fica evidente diante de um país incapaz de impor um ritmo acelerado à imunização da população. 

Em um ano de pandemia, vimos diferentes ações de governo. Alguns se mostraram omissos e resistentes no combate ao vírus, outros têm agido de forma contida e há aqueles que, desde o início da crise, já se preparavam com estratégias, negociações e logísticas para que estivessem a postos para quando a vacina ficasse pronta nos laboratórios. 

Diante do lento avanço da campanha de vacinação, um dos principais focos tem sido pressionar a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, para flexibilizar as regras para a aprovação de imunizantes. O órgão vem sendo cobrado por empresários, parlamentares, governadores e pelo próprio Governo Federal para facilitar o processo devido à escassez de vacinas. A Anvisa exigia que uma vacina fosse testada em voluntários brasileiros para que pudesse ser liberada para uso emergencial. Na última semana, ela decidiu retirar a exigência de estudos clínicos no Brasil, mas ampliou o prazo de análise de 10 para 30 dias. O Senado, então, aprovou uma Medida Provisória, derrubando o prazo para 5 dias - que ainda aguarda sanção do presidente Jair Bolsonaro.

É urgente que haja também um grande clamor popular, uma grande pressão para a compra de vacinas. A escassez dos imunizantes é apontada como a maior causa da morosidade do processo que, no Brasil, começou depois de cerca de 50 outros países. A única saída da pandemia é a vacina, mas ainda se vê pouca mobilização contra a dificuldade de acesso a ela.


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