Um carnaval diferente

Ao contrário do que se viu no Natal e no Réveillon, as programações de aglomeração para o Carnaval sofreram uma forte resistência com o importante e acertado novo decreto estadual cancelando feriados e pontos facultativos na rede pública. Isso não evita, mas tende a reduzir as viagens para balneários e casas de veraneio.

Não há garantias, infelizmente, de que não veremos desrespeito e aglomeração, mas com o funcionamento, em expediente normal, de bancos, escolas, judiciário e outros serviços públicos, teremos uma importante tentativa de fazer a sociedade brasileira perceber que realmente está numa pandemia - que já se aproxima dos 12 meses em território nacional. 

É esperada uma queda na movimentação nos terminais rodoviários, sobretudo o Engenheiro João Tomé, em Fortaleza, o maior da Capital. Se em tempos mominos o fluxo de passageiros chega a 130 mil pessoas, mais da metade da média, poderemos ver, na próxima semana, uma estimada queda de 25% do público normal. Na prática, o comparativo entre os Carnavais de 2020 e de 2021 será de um terço de passageiros de um ano para outro. Durante o lockdown, vale lembrar, nem mesmo esse transporte ocorreu. O Governo do Estado ainda avalia a possibilidade de que a recomendação de redução de viagens interurbanas se torne uma restrição. 

Não podemos esquecer, de qualquer modo, que mesmo as restrições são uma resistência desigual. Há quem possa viajar e fazer seu próprio Carnaval, sendo esse um ponto nevrálgico das fiscalizações contra aglomerações familiares de aparente legalidade. A forçada normalidade para os dias 15 e 16 de fevereiro cumprem um efeito pedagógico, cujo aprendizado ainda está em construção.

Embora o País esteja com as médias móveis diárias próximas às da Alemanha, que está em pleno lockdown, com duas prorrogações, ainda há um limite de severidade na maioria dos estados brasileiros. Vivemos o confinamento rígido no Brasil em 2020, mas por períodos curtos e sempre sujeitos a críticas de vários setores, cada um com seus motivos justos, mas a razão maior sempre foi a de preservar vidas. 

Na Alemanha, para conter a nova disseminação acelerada, as autoridades, lideradas pela chanceler Angela Merkel, explicaram para a população que se tratam de “restrições inacreditáveis”, mas necessárias. Liderar não é fazer o que se quer, mas o que se precisa fazer, o que é possível por meio da confiança nas próprias instituições de que é regente. 

Como disse o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux, na abertura dos trabalhos do Poder Judiciário, a vacina vencerá o coronavírus e a “racionalidade vencerá o obscurantismo”. A racionalidade nunca foi tão cobrada dos gestores públicos e da população.

O Brasil, por sua continentalidade, tem mostrado possíveis saídas, umas regiões podendo ensinar às outras, um estado cooperando com outros - o Ceará ocupando uma possível lista de exemplos. Quando a sociedade apoia as medidas drásticas, porém inevitáveis, para conter a maior crise de saúde global, sinaliza para seus próprios líderes que esse é o caminho a percorrer, que se está agindo racionalmente. Por isso que, pelo bem de cada vida, da saúde, da economia e da sociedade, este não poderá ser qualquer Carnaval.