O Comitê de Enfrentamento à Covid-19 no Ceará decidiu recomendar, novamente, que a população evite viagens intermunicipais. A medida de controle da disseminação do novo coronavírus é anunciada seis meses depois da liberação do fluxo, quando o Ceará estava na Fase 3 de retomada das atividades, em julho. O bloqueio na circulação entre municípios era apontado como uma das medidas essenciais em meio ao agravamento da crise no primeiro semestre de 2020. Um dos maiores perigos do aumento da circulação de pessoas entre Fortaleza e o interior é a aceleração do “efeito bumerangue”, o “leva-e-traz” do vírus entre as localidades.
Pelas estradas do Estado, o vírus chega a diferentes realidades. Nos municípios menores, as pessoas adoecem sem ter acesso a um sistema de saúde adequado e, quando há tempo e condições de trajeto mínimas, recorrem à Capital em busca de tratamento. Em muitos casos, pode ser tarde demais.
Quando a volta das viagens intermunicipais foi autorizada, a expectativa era que houvesse limite de número de passageiros, uso obrigatório de máscaras, medição de temperatura e oferta de álcool em gel. As medidas sanitárias no interior de cada veículo de transporte coletivo ficaram a cargo das empresas. Esperava-se contar, como em todas as iniciativas, com a consciência dos passageiros.
A realidade que se impôs, contudo, mostrou a dificuldade em controlar o fluxo de pessoas, especialmente no fim do ano, com as datas festivas. A recomendação para que se volte a evitar o uso do transporte intermunicipal é acompanhada do anúncio de que leitos serão reabertos no Estado e que está proibido o uso de áreas comuns de lazer em condomínios de praia. O cenário é claro: a pandemia não acabou e Fortaleza revive o aumento da concentração viral da Covid-19.
As acomodações criadas em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e em enfermarias serão reabertas. Segundo o Governo do Estado, pouco mais de 200 leitos devem ser acrescidos à rede de saúde nos próximos 15 dias. Nos hospitais regionais do Interior, o aumento chega a ser de até 20 leitos e UTIs. Além do aumento dos casos, ainda se investiga a existência de infecções causadas pela nova variante do coronavírus. Conforme o secretário, ainda há muita dúvida sobre a gravidade e a forma de transmissão da nova cepa. Além disso, há uma mudança de perfil epidemiológico: a doença está acometendo mais os jovens, justamente o público que mais tem se visto exposto em aglomerações.
Ainda não existe controle sobre a pandemia, mesmo com a descoberta da vacina. Não se pode perder o mínimo que já se alcançou na gerência da crise. Estudos comprovam que pessoas já infectadas, mas ainda assintomáticas, transmitem a doença. Se alguém viajar assim, quando chegar ao destino e apresentar sintomas, já terá infectado outros passageiros.
Há um mês, eram 90 os municípios com risco alto ou altíssimo no Estado para transmissão do coronavírus. Agora, a gravidade já atinge 107 dos 184 municípios cearenses. Cidades como Caucaia e Jijoca de Jericoacoara - destinos turísticos de praias, com frequentes cenas de aglomeração - permanecem em nível altíssimo. A tentativa de administrar espacialmente o contágio é fundamental. A luta ainda não acabou.