O Projeto São Francisco de Integração de Bacias – uma ideia concebida no tempo do Império, mas tirada do papel no ano 2003 e com obras efetivamente iniciadas em 2007, ainda é uma sinfonia inacabada. Seu Canal Norte, que traz águas do Rio São Francisco para Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco, ainda carece, para ser finalizado, de dois ramais – o do Apodi, que beneficiará o Oeste do Rio Grande do Norte e, também, o Baixo Jaguaribe, no Leste cearense – e o do Salgado, que encurtará a viagem das águas desde Salgueiro, em Pernambuco, até o Rio Salgado, através de cujo leito chegará ao seu destino final em terras cearenses – o grandioso açude Castanhão. O projeto executivo do Apodi está pronto e em processo licitatório. O do Salgado, segundo promessa do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), será terminado e, em seguida, licitado, em meados deste ano.
Há, porém, obstáculos técnicos, financeiros e políticos – alguns graves – que precisam de ser logo superados, tendo em vista as previsões da ciência do clima, segundo as quais neste 2021 o Ceará tem 50% de chance de chuvas abaixo da média histórica. Já estamos no fim da pré-estação chuvosa no Ceará com baixos índices. Neste momento, o Ministério do Desenvolvimento Regional, executor e, por enquanto, gestor do projeto, banca sozinho o custo de operação do empreendimento. Nenhum dos quatro estados beneficiados assinou o contrato para a repartição dessa despesa, 70% da qual se relacionam ao consumo de energia elétrica das estações de bombeamento.
Assim, e talvez por esta causa, parte das águas do Canal Norte, que deveriam, desde a barragem de Jati, estar de viagem para o açude Castanhão, vem sendo desviada totalmente para a Paraíba, onde enche os açudes do projeto, construídos pelo MDR. Se a previsão científica se confirmar, como até agora aponta a baixa pluviometria, as águas do Projeto São Francisco, e só elas, serão vitais para o abastecimento das cidades da Região Metropolitana de Fortaleza e para assegurar as atividades econômicas – industriais e agropecuárias – e ainda para garantir a dessedentação animal na região à jusante do Castanhão. Como se pode observar, o Ceará depende não só da engenharia humana, mas também da natureza, cuja última prodigalidade aconteceu em 2004, quando o sertão virou mar com tanta chuva (o Rio São Francisco, naquele ano, chegou a despejar no oceano, em sua foz, 15 mil metros cúbicos de água).
Quem produz e trabalha no semiárido pernambucano, paraibano, potiguar e cearense acompanha com interesse os esforços do MDR e dos governadores dos estados beneficiados pelo Projeto São Francisco, na esperança de que, no mais curto prazo possível, encontrem a solução política e financeira que viabilize a conclusão, a operação e a gestão do empreendimento, no qual já foram investidos perto de R$ 10 bilhões, sendo ainda necessários outros R$ 2,5 bilhões para a sua conclusão definitiva.
A alternativa da dessalinização da água do mar – caminho natural que a tecnologia está abrindo em boa velocidade aqui e no mundo todo – ainda demorará. Então, que o bom senso prevaleça para que se produza o milagre das águas do São Francisco.