O governo e a Petrobras

Por vários motivos – o frio intenso nos Estados Unidos que fez paralisar por alguns dias a operação de suas refinarias e a decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de reduzir sua produção para forçar a elevação das cotações do óleo, entre eles – a Petrobras decidiu aumentar, pela quarta vez neste ano e pela segunda neste mês, os preços da gasolina e do óleo diesel, que ficaram mais caros nas unidades de refino e nos postos de combustíveis.

Sem nada poder fazer para intervir na política de preços da maior empresa brasileira, cujas ações são negociadas nas bolsas de valores e, por isto mesmo, susceptíveis ao sobe e desce que provocam quaisquer declarações de autoridades, o Governo está limitado à simples troca dos dirigentes da Petrobras.

Ainda ontem, o presidente Jair Bolsonaro anunciou, pelas redes sociais, a indicação do general Joaquim Silva e Luna para a presidência da Petrobras. Luna substitui Roberto Castello Branco. O texto informa que Luna cumprirá “nova missão, como conselheiro de administração e presidente da Petrobras, após o encerramento do ciclo, superior a dois anos, do atual presidente”. 

A questão que preocupa o chefe do Executivo é a da gigantesca diferença entre o preço dos combustíveis na refinaria e o cobrado dos consumidores pelos postos da esquina e das estradas. Na “live” passada, ele insinuou que há mistérios, até agora não desvendados, em torno da formação do preço dos combustíveis entre a refinaria e o posto. Desde ontem, o preço médio da gasolina vendida pela Petrobras às distribuidoras saiu de R$ 2,25 para R$ 2,48 por litro. O do diesel passou de R$ 2,24 para R$ 2,58.

De janeiro até esta data, a gasolina aumentou, 34,78%; o diesel, 27,7%. Entre o preço médio e o final, que é o pago pelo dono da moto, do carro de passeio ou do caminhão de carga, são embutidos o lucro da refinaria, da distribuidora e dos varejistas e mais os impostos federais e estaduais. E são estes, de acordo com o que pensa e diz o presidente da República, os responsáveis pela disparada dos preços dos combustíveis. 

Bolsonaro decidiu comprar mais uma briga com os governadores, alegando que são os estados, com suas diferentes e altas alíquotas do ICMS, que oneram pesadamente o preço final da gasolina, do diesel e do gás. E prometeu que, a partir de 1º de março e por dois meses, o governo da União isentará de qualquer imposto federal a venda do óleo diesel, com o que massageará o rebelde coração dos caminhoneiros. Ao longo dos 60 dias de isenção, o Ministério da

Economia construirá uma solução definitiva para a questão. Não deveria ser dirigida assim – ou seja, por arroubos do presidente da República ou por falha de comunicação da Petrobras – a política nacional de preços dos combustíveis, um tema ainda recorrente que interfere em todas as cadeias produtivas. 

Não há dúvida de que este novo aumento de preço dos combustíveis será logo repassado ao consumidor dos alimentos, do transporte coletivo e das viagens aéreas, por exemplo. O futuro próximo dos combustíveis de origem fóssil não é promissor, porque as energias renováveis avançam sobre eles. Essa mudança demorará e, até que aconteça, o governo e a Petrobras terão de encontrar relação menos conflituosa. 


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