Decidiu o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manter por mais 45 dias – até sua próxima reunião – a taxa básica de juros Selic em 2% ao ano. Ela é a taxa que regula os juros dos empréstimos entre os bancos. Mas é ela, também, a referência para as demais taxas de juros do mercado, o que, diretamente, é do interesse do setor produtivo.
O comunicado do Copom, anunciando sua decisão, levantou a suspeita de que a manutenção da Selic no porcentual de hoje está saindo do radar da autoridade monetária, razão pela qual já estimam os economistas e operadores do mercado que, ao longo deste ano, ou seja, a partir de março, os juros básicos retomarão o viés de alta. E motivo é o que não falta.
A inflação está mostrando força e ganhando uma curva ascendente, ameaçando até romper o centro da meta para este exercício de 2021, fixado pelo Banco Central em 3,75%, podendo oscilar entre o mínimo de 2,25% ao máximo de 5,25%. Estima-se que, em março, no acumulado de 12 meses, a inflação baterá nos 6%, acendendo o sinal de perigo. Por sua vez, a questão fiscal, agravada pelas divergências políticas que estão longe de uma convergência, colabora para tornar ainda mais cinzento o horizonte de curto prazo.
Acrescente-se a esse cenário a queda de popularidade do presidente da República, que terá de responder com medidas que, naturalmente, conduzirão ao aumento dos gastos – como a possível retomada do Auxílio Emergencial – tornando pior o que já é ruim nas contas públicas, pois sua consequência será mais endividamento.
E, para completar o quadro, a pandemia da Covid-19 recrudesceu, o número de pessoas infectadas aumentou e, em algumas cidades, como Manaus, o de óbitos explodiu como consequência da falta de oxigênio para o socorro dos doentes, o que certamente levará o Governo a ampliar suas despesas para conter a crise sanitária, que, a bem da verdade, também está sendo agravada nos EUA e na Europa.
Tudo isso, então, dependerá do êxito do Programa Nacional de Imunização (PNI), uma vez que, quanto mais rapidamente a população for vacinada, mais precocemente a atividade econômica se reativará a pleno. Hoje, a indústria nacional registra uma ociosidade que, em alguns setores, chega a 30%.
Contudo, do ponto de vista da política, a perspectiva é precária, tendo em vista que a disputa pela presidência das duas casas do Congresso Nacional se torna mais acentuada, expondo a clara divisão entre as forças de oposição e as de apoio ao Governo. Na Câmara dos Deputados, os dois lados travam uma árdua batalha que exibe, de novo, a prática do “toma lá, dá cá”, com a troca de cargos na administração federal por garantia de voto no candidato governista.
O resultado da eleição no Parlamento, principalmente na Câmara, refletirá rápida e profundamente nas ações do Poder Executivo. O País necessita, com urgência, de reformas. A tributária e a administrativa estão paralisadas, assim como outras propostas que ajudarão a consertar as contas públicas. Deputados e senadores precisam contribuir logo para a superação da crise econômica e financeira. Sem as reformas, isso não será possível.