Longe do real carnaval

Houve quem alimentasse a esperança de que a terça-feira de Carnaval de 2021 fosse um dia de grandiosas aglomerações e de festividades carnavalescas com suas facetas mil. A data, no entanto, coincide com novos números alarmantes da pandemia. Um levantamento do Diário do Nordeste mostra que, em pouco menos de um mês, de 20 de janeiro a 13 de fevereiro, a quantidade de municípios cearenses classificados com risco “alto” ou “altíssimo” de propagação da Covid-19 triplicou, passando de 107 para 162. 

Não há hoje nenhuma cidade cearense que se encaixe na classificação “novo normal”, de Nível 1 - Risco Baixo. Dos 184 municípios do Estado, 63 constam em altíssimo risco. Dentre eles, estão alguns da Região Metropolitana de Fortaleza, como Caucaia, Pacatuba e Itaitinga, que contam com barreiras sanitárias neste período de Carnaval, para reduzir as chances de propagação da doença. As cidades com risco altíssimo são aquelas que têm mais de 95% de ocupação dos leitos de UTI Covid-19 e porcentagem de testes positivos acima de 75%. 

Desde o início de fevereiro, o Ceará apresentou tendência crescente na taxa de letalidade pelo novo coronavírus, de 1,4%, estando ainda no Nível 2 - Risco Moderado. O número de infectados pela Covid-19 no Estado está próximo a 70% do total do ápice da pandemia no Estado, que aconteceu entre os meses de abril e maio de 2020. A informação foi dada pelo secretário da Saúde, Dr. Cabeto, na última semana, como forma de justificar para a população as medidas mais rígidas que voltaram a ser adotadas. Ao olhar para os comportamentos sociais de hoje, no entanto, aquela sociedade que se confinou no pico da pandemia no ano passado parece outra hoje.

O que se vê, mesmo com o alarme em torno da situação, é que uma parte da população continua precavida e tem, até mesmo, redobrado os cuidados, adotando um confinamento mais rígido, evitando contato, especialmente com pessoas do grupo de risco. Ainda assim, há quem lide com a situação como se nada estivesse acontecendo. 
O governador Camilo Santana suspendeu as festas de Carnaval, os shows e outros eventos sociais, mas a efetividade da medida está relacionada menos a uma atitude dos poderes macro e muito mais a um esforço individual e de pequenos coletivos em entender a gravidade do cenário. As pequenas aglomerações, a reunião de amigos na casa de praia, a festa com os vizinhos na rua do bairro e outras estratégias semelhantes, em ambiente aberto ou fechado, também espalham o vírus, também têm potencial de ceifar vidas. 

Na mesma Capital onde a Polícia precisou dispersar uma multidão que se achou no privilégio de brincar o tradicional “mela-mela” do Carnaval, a ocupação dos leitos de UTIs para pacientes adultos com Covid-19 chega a 97%, com sete hospitais na cidade tendo atingido 100% de leitos ocupados. 
A vacinação está em curso, mas com graves atrasos e com limitação de público-alvo, agravada pela existência de uma nova variante do vírus. Quando uma ameaça é no nível do coletivo, não se pode admitir privilégios a pequenos grupos. Quanto mais gente tenta se tornar exceção mais longe ficamos da real comemoração do Carnaval - a que celebra a alegria de estar vivo.


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