Editorial: Acesso à leitura

Símbolos de resistência e refúgio, as bibliotecas comunitárias também sentem os duros abalos causados pela pandemia do novo coronavírus. Geralmente localizadas nas periferias das cidades - e, portanto, em regiões mais vulneráveis aos impactos desse contexto de exceção - esses espaços se sentem fragilizados neste instante exatamente por não dependerem de financiamento público, mantendo-se por meio de iniciativas como associações de bairros, ONGs, igrejas e até mesmo por ações individuais de uma ou mais pessoas físicas.

Em busca de apoio, os organizadores dessas casas dedicadas ao livro e à leitura têm se movimentado de várias formas. Além de publicações nas redes sociais, criação de eventos e projetos com ressonâncias na web, campanhas estão sendo criadas para atenuar os efeitos da pausa compulsória e manter o pagamento de despesas mensais básicas, referentes ao consumo de energia, água e acesso à internet, por exemplo.

A Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias tem tentado arrecadar recursos para esses fins. Eles estão sendo destinados às comunidades por meio da compra de itens de higiene, alimentos, gás ou repasse direto do valor em dinheiro. A distribuição acontece conforme as necessidades de cada realidade, e Fortaleza é uma das cidades que constam na lista de lugares para onde esse apoio deve ser remanejado.

Ou seja, o cenário vai muito além da pauta sobre a necessidade de difusão da leitura e da literatura; sobretudo chancela que esses campos devem ser encarados como direito humano e, de tão tentaculares, englobam inúmeras outras questões relacionadas à promoção de vida, cidadania e dignidade em localidades historicamente marginalizadas pelo poder público.

A capital cearense, inclusive, é sede de um coletivo que igualmente tem se movimentado para que as bibliotecas comunitárias não esmoreçam. A rede Jangada Literária engloba dez espaços e sua atuação se dá por meio do trabalho de reconhecimento desses ambientes como equipamentos culturais nos locais onde estão inseridos.

A própria criação da rede atesta um fato interessante: o crescimento do número de bibliotecas comunitárias no Estado nos últimos anos. Prova concreta desse alcance aconteceu na última edição da Bienal Internacional do Livro do Ceará. O eixo Literatura Juventude Periferia apresentou o trabalho dessas casas e o poder de transformação delas no cotidiano de crianças, jovens e adultos.

Por sua vez, em contraponto a essa intensa expansão, iniciativas públicas no ramo apresentam outro contexto. A Biblioteca Pública Menezes Pimentel, por exemplo, segue fechada para conclusão da reforma iniciada há seis anos, e sem programação virtual na quarentena. Com a pandemia, também amarga a data de previsão para reabertura do equipamento.

Cabe, portanto, ao Estado e a todas as instâncias competentes um maior esmero no que toca às necessidades das bibliotecas comunitárias, neste e em todos os momentos. A relevância delas é tamanha: configuram-se como verdadeiros oásis, provendo acessibilidade a livros, vivências e saberes, pontos cruciais para o real progresso de uma nação.


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