Ao longo de uma semana, o público pode conferir mais uma programação do Cine Ceará - Festival Ibero-Americano de Cinema, um dos mais tradicionais da sétima arte no País. A conclusão de mais este ciclo merece loas, dada a histórica resiliência exibida daqueles que vivem da arte e da cultura, não apenas no Ceará, mas em todo o País. Os bens e ações culturais também reafirmaram sua importância num ano em que o mundo se viu obrigado, por meses, a ficar encerrado dentro de casa. Reunir um elenco de produções, de origens diversas, em regra reflexivas sobre a realidade atual, não é apenas importante, como um ato investido de permanente urgência.
A emergência sanitária da Covid-19 ocorre em um ano em que, era sabido, seria particularmente importante para o Cine Ceará. A expectativa era alta desde o ano passado. Em 2020, o festival chegaria à sua 30ª edição, consolidado como um evento pulsante, referência para a sétima arte produzida no Brasil e com pontes erguidas para o diálogo com os países do continente americano e da Península Ibérica. Diante do desafio imposto por um longo período atípico, marcado por incerteza, o festival reforçou sua vocação para a tenacidade e para o espírito inventivo. Ao invés de encolher, como foi necessário para muitos eventos culturais, o Cine Ceará ousou se expandir.
A adoção de formatos não-presenciais ou híbridos se impôs aos eventos de cultura neste ano. O risco de contágio, as medidas necessárias para conter a contaminação e a crise econômica motivada por tudo isso foram particularmente danosos para o meio cultural. Foi um dos primeiros setores a ser afetados e, mesmo em tempos de reabertura, teve um ritmo mais lento. Nesse ínterim, não foram poucos os projetos que foram cancelados, adiados ou, em casos mais lamentáveis, descontinuados.
As plataformas digitais foram o destino certo de shows, espetáculos de teatro e filmes. No Cine Ceará, elas foram adotadas, mas aliadas a transmissões de TV e projeções presenciais, como o momento exige, para um público restrito. Ampliou, assim, o alcance de seu público, num momento em que não se pode valer do formato tradicional de festivais do gênero, que promovem não apenas o encontro do amante da sétima arte com as obras, mas de todo o universo daqueles que amam e fazem cinema: profissionais de criação, críticos, estudiosos, cinéfilos.
Criado como Festival Vídeo Mostra Fortaleza, em 1991, pelos cearenses Eusélio Oliveira e Francis Vale, o Cine Ceará tem uma história de crescimento, de travessia continente adentro e para além-mar. Sua trajetória foi acompanhada, edição a edição, e nos períodos de gestação de cada uma delas, pelo Diário do Nordeste e veículos do Sistema Verdes Mares.
O sucesso do festival é simbólico. É testemunha de suas qualidades, claro, mas fala não apenas pelo cinema e por aqueles que amam as imagens em movimento. Reafirma a disposição das artes, de todas elas, a persistirem e enfrentarem as adversidades - econômicas, sociais, sanitárias. Confirma que, de fato, 2020 foi um ano importante para o tradicional festival, que conclui esta edição mostrando seu compromisso com sua missão cultural.