Foi inaugurado ontem o novo governo dos Estados Unidos da América, agora sob administração do presidente democrata Joe Biden, que tem à sua frente vários desafios, o primeiro dos quais é enfrentar e vencer, no menor espaço de tempo possível, a pandemia do coronavírus, que já registrou mais de 24 milhões de casos e matou, nos seus 50 estados, 401 mil pessoas.
O segundo, tão importante quanto o primeiro, é apaziguar a população norte-americana, politicamente dividida por causa do radicalismo assumido por boa parte dos militantes republicanos fiéis ao ex-presidente Donald Trump. O terceiro desafio de Biden é reanimar a economia do País, devolvendo a confiança do investidor, também castigado pelas desavenças políticas dos últimos quatro anos.
No front externo, o novo governo tem um extenso contencioso com a China, que foi agravado pelo discurso extremado do antigo ocupante da Casa Branca, sem se falar nas relações com os tradicionais aliados da Europa, como o Reino Unido, a França e a Alemanha, que igualmente enfrentaram turbulências durante a gestão de Donald Trump.
Nas relações entre os países, não há qualquer tipo de amizade, pois o que existe de verdade são interesses comerciais, de que é exemplo a crise que há dois anos dificulta os negócios dos Estados Unidos com a China, que são a segunda economia do mundo, caminhando para assumir a liderança, e, também, uma potência militar, com grande arsenal atômico, científico e tecnológico (os chineses acabam de enviar e trazer de volta da Lua um veículo que coletou amostras de rochas).
Do alto de sua experiência política – foi senador por mais de 30 anos e vice-presidente nos oito anos da gestão Barack Obama – o presidente Joe Biden tem a seu favor essa virtude, além do conhecimento e relacionamento pessoais com os principais líderes políticos do mundo, o que facilitará a execução de sua política para o exterior.
Mas, no que se relaciona ao Brasil, há óbices a serem superados, a começar pelo fato de que o presidente Jair Bolsonaro foi um dos últimos chefes de Estado a cumprimentar Biden pela sua eleição, pois também acreditou no discurso de Trump de que houve casos de fraude na eleição presidencial dos EUA, em novembro, algo que a própria Justiça americana negou.
É de se crer que os interesses comerciais e geopolíticos cuidarão de curar essas feridas abertas em Brasília e em Washington, desde que, evidentemente, as duas partes convirjam para o entendimento. Joe Biden, que já recolocou os Estados Unidos no Acordo de Paris (que trata da redução da emissão de gases estufa), sinalizou, ainda na campanha eleitoral, que olhará com atenção para as políticas de preservação da Amazônia brasileira, uma mensagem ainda não bem digerida pelo Palácio do Planalto.
O que vier a acontecer, nas próximas semanas, na política e na economia dos Estados Unidos, interessará diretamente ao governo do Brasil, que deverá, usando o melhor do pragmatismo, readequar-se à nova administração norte-americana, respeitando, contudo, a soberania nacional. O Brasil precisa de retomar sua liderança e seu protagonismo na cena internacional. Para isso, terá de cambiar o extremado discurso ideológico do Itamaraty por uma atitude condizente com a realidade do mundo.