As estatais e o governo

Qualquer palavra ou decisão do presidente da República repercute – direta, imediata, favorável ou desfavoravelmente – no mercado financeiro, que se move, basicamente, pelo interesse especulativo. É assim no Brasil e em qualquer país de economia minimamente organizada. Na quinta-feira da semana passada, novas declarações do presidente Jair Bolsonaro provocaram, mais uma vez, turbulência na Bolsa de Valores B3, fazendo desabar em mais de 6% as ações da Petrobras, a maior empresa brasileira. 

Recuperando-se, ainda, do impacto da má-gestão e da corrupção praticada por políticos e empreiteiros, que se apropriaram de mais de R$ 60 bilhões subtraídos dos seus cofres, a Petrobras foi obrigada a reinventar-se, para o que profissionalizou toda a sua diretoria, em um esforço hercúleo de fechar suas portas à interferência da política.

Entre as providências tomadas pela governança corporativa a que a Petrobras está agora submetida, inclui-se uma política de preços subordinada às cotações internacionais do petróleo.

Essa política e, ainda, o programa de desinvestimento em curso – do qual faz parte a venda de ativos, entre eles refinarias no Brasil e no exterior – devolveram à empresa a confiança do investidor, em consequência do que se elevaram suas ações nas bolsas, reduziram-se seus prejuízos e sua dívida e, ainda, cresceu o seu lucro. Mas essa política de preços da Petrobras assustou não só o governo, seu controlador, mas o consumidor.
 
Neste ano, em menos de 60 dias, o preço da gasolina e do óleo diesel subiu quatro vezes, duas das quais neste mês de fevereiro, provocando a reação do presidente Bolsonaro, que, ele mesmo, pelas redes sociais, anunciou a demissão do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, o que será oficializado na Assembleia Geral Extraordinária da empresa, hoje. Ainda ontem, o presidente da República afirmou que mudanças serão feitas no Governo “sempre que se fizer necessário” e disse que tem que “descobrir sozinho” sobre questões que, segundo ele, impactam no valor do combustível. 

Para o mercado, a decisão de Bolsonaro foi uma intervenção do Estado na economia, fazendo acender a luz da desconfiança dos investidores. O indicado para a presidência da Petrobras, general Joaquim Silva Luna, atual presidente da Itaipu Binacional, com o fim de acalmar esse mesmo mercado, já disse que o Palácio do Planalto não interferirá na política de preços da Petrobras, que deve, porém, na sua opinião, ser previsível para evitar surpresas. 

No Brasil, sempre foi conflituosa a relação do Estado com os agentes e os organismos que operam a economia. Na própria Petrobras, a força do corporativismo é visível e chega a dificultar a execução das políticas estratégicas da empresa, como a atual, de desinvestimento. Mas não se restringem a Petrobras as dificuldades de relacionamento do governo com suas estatais. A área movediça de energia elétrica, por exemplo, como a do petróleo e gás, movimenta altos interesses nacionais e estrangeiros. 

O que a sociedade brasileira pede, agora, em nome da moralidade, é que se tornem transparentes as relações das empresas estatais com o seu universo de grandes empreiteiras e grandes clientes. A transparência é parte fundamental da atuação contra qualquer crise.


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