A tecnologia e a natureza

Começa a confirmar-se a previsão da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), segundo a qual há 50% de chance de a estação de chuvas deste ano ficar abaixo da média histórica, 40% de situar-se na média e só de 10% de ser acima da média. Estamos no fim de janeiro e, até este momento, a pluviometria é raquítica na geografia do Ceará, um Estado ainda muito dependente das chuvas. A natureza, que já foi pródiga não só com este Estado, mas com os demais do Nordeste - como aconteceu em 2004, quando verteram todas as grandes barragens da região, entre as quais a do Castanhão e a de Sobradinho - tem-se tornado avara de lá para cá. Aqui, a estação das chuvas costuma iniciar-se em fevereiro, prolongando-se até o fim de abril. Em casos excepcionais, avança pelo mês de maio, mas isso é uma raridade.

Os açudes públicos do Ceará, a grande maioria construída pelo centenário Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), podem acumular 18 bilhões de metros cúbicos de água, o equivalente ao volume de 15 Baías de Guanabara. Para recarregá-los integralmente, será necessário um período chuvoso cuja pluviometria seja muito superior à média histórica, e, mesmo assim, com chuvas bem distribuídas espacialmente, pois os reservatórios se distribuem pelas diferentes regiões - o açude Araras, de 1 bilhão de metros cúbicos, está localizado na região Norte; já os gigantes Castanhão, Orós e Banabuiú estão no entorno do Vale do Jaguaribe.

Pequenos, médios e grandes produtores rurais, principalmente os da agricultura e da pecuária empresariais, preocupam-se com a possibilidade de mais um ano de poucas chuvas, uma vez que sua atividade depende da água para a produção de alimentos para o consumo das pessoas e dos animais. No ano passado houve boas chuvas, mas insuficientes para a recarga dos grandes açudes - o volume do Castanhão e do Orós não passou de 15% de sua capacidade. A garantia de recursos hídricos para o abastecimento das cidades e para a irrigação dos campos de produção agropecuária é uma das prioridades do Governo do Estado, que, em sintonia com o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), trabalha para a conclusão e o início de operação do Projeto São Francisco de Integração de Bacias, cujos custos muito elevados, principalmente com energia elétrica, dificultam o entendimento do Governo Federal com os quatro estados beneficiados - Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco.

Confirmando-se a previsão da Funceme para este ano, as águas do Projeto São Francisco tornar-se-ão fundamentais, por exemplo, para o abastecimento de Fortaleza e de sua Região Metropolitana, uma vez que o Castanhão e o Orós estarão, novamente, com um volume insuficiente de água para atender à demanda social, ecológica e econômica. Infelizmente, porém, permanece suspenso, por decisão do MDR, do fornecimento de água do São Francisco para o Cinturão das Águas do Ceará (CAC), através do qual chegarão ao rio Salgado e, finalmente, ao Castanhão. É por esta razão que o Governo cearense acelera a implantação do projeto da usina de dessalinização que a Cagece construirá na Praia do Futuro.

Teremos, assim, a melhor tecnologia socorrendo a natureza.