A certeza inicial

O reconhecimento da crise da Covid-19 como uma pandemia, há cerca de um ano, não deixou dúvidas quanto à abrangência do problema. Ela implicava, potencialmente, todos os países. Em março de 2020, viu-se uma escalada de casos como se a doença estivesse invadindo territórios por todo o globo.

O horizonte ainda era impreciso — muito mais do que o é hoje —, mas desde então já estava colocada a natureza coletiva do problema, tanto quanto do seu enfrentamento e de uma futura superação. Tal constatação foi repetida insistentemente. Muito se falou em empatia, em compromisso com o outro. Não são temas que pertencem ao passado. São ideias da ordem do dia. 

No Ceará, os discursos governamentais chamam a atenção para a situação nos hospitais, em especial para a ocupação de leitos destinados a pacientes infectados com o novo coronavírus. Trata-se de um termômetro de fácil leitura, que dá a entender a tendência de alta de casos e óbitos pela doença. Outro dado que se tem feito notar é o número de internação de pacientes mais jovens em estado grave. De acordo com o mais recente Boletim Epidemiológico da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), janeiro registrou um inconteste aumento de casos da doença no período.

Há expectativa na divulgação de dados relativos ao mês de fevereiro. Esses permitirão que se conheça a situação do que tem sido descrito como uma segunda onda da pandemia e os eventuais impactos das recentes medidas restritivas determinadas pelo Estado para o município de Fortaleza. 

No começo do mês, um novo decreto governamental restringiu o horário de funcionamento de estabelecimentos comerciais de atividades não essenciais, permitindo sua operação apenas entre as 6h e as 20h. A vigência da ordem, inicialmente, é de duas semanas. Outras limitações, para os fins de semana, alcançam o setor de alimentação fora do lar. 

O aumento de casos se seguiu a um período em que se multiplicaram flagrantes de um descumprimento irresponsável das medidas de segurança contra a doença. Praias lotadas e festas clandestinas foram a expressão extrema de um relaxamento dos bons hábitos do autocuidado e, consequentemente, do cuidado com o próximo. 

A impressão é como se estivesse diante dos olhos um déjà-vu. Contudo, há de se recordar que, intercalando-se com estas cenas absurdas, de ignorância e irresponsabilidade, estão outras, de vacinas que chegam e são aplicadas. 
Uma campanha, ainda longe do ideal e do desejável, está em curso. Avançou-se na luta contra a Covid-19 — mas o momento, exatamente por isso, não é de relaxamento e descaso. 

É compreensível que a ameaça constante do vírus e as drásticas transformações do cotidiano por ele provocadas sejam motores de uma exaustão e que esta inspire desejos de fuga. Esta não é a saída. Ao contrário. Como se adivinhou no começo da crise, a saída passa pelo fortalecimento da empatia e do espírito de solidariedade. 

Não há soluções miraculosas e individuais para uma crise que afeta pessoas, sociedades e economias. É hora de tomar fôlego para o embate e de se reafirmar o compromisso ético, sem o qual não se pode sonhar com qualquer antídoto para a doença.


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