O resultado do primeiro turno das eleições de 2022 evidenciou questões relevantes e polêmicas, como a diversidade no perfil do/as eleito/as. Houve o aumento de 17,7% de mulheres eleitas, 27,3% de negros (pretos e pardos), vitória de representantes do MST, indígenas e pessoas Trans, deixando a bancada partidária mais plural no que concerne à identidade de gênero e sexual, pertença racial e geração. Porém, tais mudanças ainda não correspondem à pluralidade da realidade brasileira.
Ainda é cedo para afirmar que tais resultados promoverão a equidade de gênero e igualdade racial nos espaços de poder. Podemos supor que o aumento no número de parlamentares negro/as representa avanço na promoção da igualdade racial, compromisso com a pauta de combate ao racismo e fortalecimento da luta antirracista?
Foram feitas denúncias quanto à discrepância entre autodeclaração do/as eleito/as e a heteroidentificação racial, ou seja, a forma como são lidos racialmente. Vale saber se tornou conveniente declarar-se negro/a para acessar recursos do fundo eleitoral, ser beneficiado pelas ações de afirmativas a ocupar uma vaga no parlamento e no poder executivo.
Tal fato tem despertado indignação nos ativistas dos movimentos negros que estão entrando com representação junto ao Ministério Público Eleitoral denunciando esse tipo de fraude, que viola a legislação eleitoral e o exercício da cidadania.
Foi possível também notar a falta de racionalidade e de bom senso quanto ao uso da religião como material de campanha, sobressaindo divisionismo, intolerância e acusações violentas a quem é ou não é cristão. Proliferando as associações perversas de determinados candidatos/as ao satanismo e desprezo aqueles adeptos de outras religiões não cristãs e a quem não tem religião.
Isso tudo só comprova o não respeito à constituição brasileira e a gravidade quando a democracia é posta em risco. No Brasil a recente democracia sofreu fortes abalos, o que faz com que a eleição de 2022 ganhe contornos particulares. Chega ao congresso nacional políticos de perfil da extrema direita, ascende ao poder representantes políticos que negam a diversidade e os direitos humanos.
Acresce os impactos da atual crise econômica na vida de muitas pessoas em cenário de pobreza e fome. O que exige do/as candidato/as respostas efetivas para superação destes problemas estruturais, como modelos de desenvolvimento social e econômico e garantia de oportunidades aos grupos vulnerabilizados e historicamente discriminados.
Infelizmente algumas campanhas se preocupam mais com pauta de costumes de viés autoritário, com discurso moralizante dos problemas sociais, ou recorrem a igualdade universal e abstrata e não a igualdade material, que os leva a negar a diversidade cultural, de gênero, sexual, étnico racial e religiosa.
O desafio para o segundo turno é validar a democracia como um caminho no combate às desigualdades, rumo a construção de um Brasil justo, inclusivo e plural.
Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.
Zelma Mdeira é professora da UECE e Assessora Especial de Acolhimento aos Movimentos Sociais do Estado Ceará.
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