Um palavrão na hora certa é questão de saúde pública

Legenda: Fortaleza é uma das cidades que mais fala palavrões no Brasil, indica pesquisa
Foto: Shutter

Em alguns momentos de aperreio, só um palavrão alivia. Dito e bendito. Com gosto de gás, para desentupir as artérias e se livrar de um infarto. E nesse aspecto, benza-te Deus, o povo do Ceará não economiza no vocabulário. Fortaleza ficou em primeiro lugar entre as cidades onde mais se diz palavrões no Brasil. A pesquisa da Preply foi publicada aqui mesmo neste Diário do Nordeste.

Tudo bem, a capital cearense dividiu o título de campeã com Rio e Brasília, mas duvido que qualquer um lugar do mundo pronuncie de boca mais cheia e de forma mais bonita um “fi de rapariga” , por exemplo. E um palavrão das antigas, monopólio dos mais velhos, como “infeliz-das-costas-ocas"? Ninguém supera.

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São Paulo e Belo Horizonte aparecem logo em seguida na lista dos desbocados. Outras metrópoles nordestinas (Natal, Recife e Salvador) também fizeram bonito na arte de chamar “nome feio” — era assim que a gente se referia ao palavreado chulo de antigamente.

Na hora da topada ou de uma raiva de rotina, ufa, um belo impropério vale por várias horas de terapia. É uma benção. Serve para todas as religiões e credos. Como aguentar o noticiário político sem mandar uns adjetivos de escárnios e outros maldizeres? É uma questão de saúde pública.

Foi essa a preocupação linguística que levou o pesquisador e folclorista pernambucano Mário Souto Maior a organizar, ainda em 1974, o “Dicionário do Palavrão & termos afins”. Censurado pela Ditadura Militar (malditos agentes da tesoura!), o volume só saiu em 1979, para alívio geral dos leitores, com prefácio entusiasmado de Gilberto Freyre.

Para recolher os 3.500 verbetes, o autor foi às ruas e pediu a colaboração, via cartas, de pessoas de todas as regiões do país. Hoje seria um trabalho bem mais fácil, com ajuda das redes sociais. O mesmo livro alcançaria fácil a marca dos 10 mil palavrões, número equivalente aos dicionários do mesmo ramo na França e Alemanha.

E você, já gastou sua cota de xingamentos do dia? Qual o seu palavrão predileto na hora do desafogo ou da agonia no juízo? Manda ver nos ares. E que a semana seja de levezas. Até a próxima.