Uma brincadeira para modernizar o modo de ver o Nordeste

Legenda: Imperatriz Leopoldinense imaginou a volta do cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, conhecido como Lampião, à Terra depois de não ter abrigo no inferno e no céu.
Foto: Divulgação/Riotur

O poder lampirônico é inesgotável. O tema do cangaço foi campeão do carnaval no Rio de Janeiro e segundo lugar em São Paulo. A “cultura nordestina”, como dizem genericamente as emissoras de TV quando tratam de Lampião e Maria Bonita, triunfou de um lado e de outro da via Dutra. Palmas para a escola carioca Imperatriz Leopoldinense, viva o xaxado da paulistana Mancha Verde.

No desfile carioca, o carnavalesco Leandro Vieira usou de forma extraordinária a estética impulsionada por Lampião. E brincou, ao melhor estilo picaresco, com o enredo “O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida". É o personagem mitológico entregue ao realismo-fantástico do cordel, além muito além do julgamento moral de herói ou bandido.

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Agora com uma roupagem mais pop, é impressionante o predomínio do cangaço como a imagem mais significativa que se tem do Nordeste, mesmo 85 anos depois da morte de Virgulino Ferreira. Uma imagem fortificada, em todo o país, pelo figurino de Luiz Gonzaga, outra realeza nordestina.

Quem trata desse assunto com ciência e arte é o mestre Durval Muniz de Albuquerque Jr., colunista deste mesmo jornal e autor do livraço “A invenção do Nordeste” (Cortez Editora). A este cronista resta a conversa miolo-de-pote e as especulações de botequim. No que pergunto aos leitores e leitoras: que outras imagens — vale personagens e modelos estéticos — representam a ideia que vocês têm da região?

Um conjunto de imagens e símbolos que modernizam o jeito de ver o Nordeste, por exemplo, é o do Mangue Beat. O movimento musical do Recife, com origem nas bandas Mundo Livre S/A e Chico Science & Nação Zumbi, enfiou uma antena parabólica na lama, no início dos anos 1990, e mostrou uma ruptura com o modo “folclórico” ou tradicional de enxergar a cena nordestina.

Mostrei aí uma imagem que me agrada, com a qual tenho ligações suspeitas, por causa da minha ligação de amizade e contribuição com esses artistas. Fica o exemplo para instigar vocês. Que a gente não fique apenas nos anos 1930 de um Nordeste de Lampião, Maria Bonita e Padim Ciço — personagens incríveis e riquíssimos nas suas contradições fabulosas. Repito: que outras imagens representam a ideia da região? Quem vocês levariam como temas dos seus carnavais?

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.