Patriotas e papa-figos... Um Carnaval para exorcizar a política

Legenda: O carnaval de Olinda é um dos maiores do país, juntamente com o de Salvador (BA) e do Rio de Janeiro
Foto: Diego Galba/Prefeitura de Olinda/Divulgação

Nas prévias carnavalescas do final de semana, já deu para sentir que teremos uma das maiores folias da história. Para exorcizar de vez toda a era bolsonarista e seus fantasmas que ainda estrebucham em manifestações golpistas. A posse de Lula foi apenas um ensaio festivo para uma possível mudança dos tempos. Em uma semana, porém, aconteceu a invasão terrorista de 8 de janeiro na praça dos Três Poderes, em Brasília. Quebrou o clima.

Só a farra momesca vai ser capaz de provocar a virada do modo Thanatos — instinto de morte, segundo o dicionário de Freud — para o modo Eros, a pulsão de vida. As festas do Nordeste prometem expurgar de vez os pandemônios destes anos dominados pelas Damares e outras assombrações de carne e osso.

Veja também

O que vimos neste sábado e domingo em Salvador, Fortaleza e nas vizinhas Recife/Olinda foi apenas uma amostra grátis do que teremos em fevereiro. Prepare-se para as melhores fantasias políticas da história. O exorcismo nacional já começou com os trajes de ironia aos “patriotários” — casais com camisas da seleção brasileira e tornozeleiras eletrônicas nas canelas, uma referência às prisões dos bolsonaristas na capital federal.

Temos uma fartura de modelitos para explorar nos blocos e troças. Nas ladeiras olindenses, porém, há uma dúvida imensa: o que fazer com o boneco gigante de Jair Bolsonaro? Solta o bicho nas ruas ou tira de circulação, para evitar vexames? Enquanto isso, o ex-presidente real curte suas férias no autoexílio da Flórida.

Inspiração é o que não vai faltar. Até o Papa-Figo já deu as caras nas prévias. Essa criatura assombrosa é também conhecida como o homem do saco. Terror das crianças, a figura do folclore urbano está associada ao roubo de órgãos, principalmente o fígado, daí vem seu apelido de mais de cem anos.

Os gastos pantagruélicos com o cartão corporativo do ex-presidente também serão fontes inesgotáveis de fantasias. Nada mais carnavalesco do que um político que vende a imagem de um homem “simplão” da caneta Bic e torra horrores em motociatas e farras de barco e jet-sky nos litorais de São Paulo e Santa Catarina. O exorcismo da folia está apenas começando.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.



Assuntos Relacionados