As danações do “pastor-capeta” no Palácio da Alvorada

Legenda: Palácio da Alvorada
Foto: EBC

Parece folheto de cordel, mas é apenas o noticiário político em tintas da bizarrice. Brasília, urgente. Em vez do milagre da multiplicação, como na imagem bíblica, o casal Bolsonaro provocou a morte planejada dos peixes. A ex-primeira-dama Michelle, segundo relato de servidores ao “Metrópoles”, teria ordenado o esvaziamento do espelho d´água do Palácio da Alvorada, o que levou ao fim da vida das carpas. O motivo: catar todas as moedas que os turistas jogam no local para doar a uma igreja.

Parece uma trama macabra. E é. Com riqueza de detalhes, conforme a investigação do repórter Rodrigo Rangel. O plano foi executado por Francisco de Assis Castelo Branco, conhecido em Brasília como “pastor-capeta”, o ex-chefe dos funcionários da residência presidencial.

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As primeiras carpas ornamentais haviam sido presenteadas pelo imperador japonês Hirohito, na gestão de Fernando Collor (1990-92). Na tradição oriental, estes peixes dão sorte. No fim de feira dos tempos bolsonaristas, acabaram morrendo no seco, sob o sol do centro-oeste.

No mesmo Alvorada, os novos inquilinos já haviam registrado queixas sobre o estrago nas instalações e a falta de móveis, como a cama onde dormiriam Lula e Janja. Só um velho sucesso de Luiz Gonzaga, forró composto pelo rei do baião e Zé Dantas, explica a situação da herança bolsonarista: “Apagaro o candeeiro e derramaro o gai (gás)”. Só a ironia de Gonzagão explica o destroço.

Os peixes mortos dizem tudo. Foi o final de governo mais melancólico da história. Sem se falar nas tragicômicas tentativas de golpe para seguir no cargo a qualquer preço.

Livro da semana

Para não ficar apenas na ladainha política, deixo algo animador. Uma dica de leitura de primeira: “Sertão, Sertões e Outras Ficções” (Cepe Editora), do escritor cearense Jorge Henrique Romero. É uma viagem literária que ajuda a entender esse território mágico e suas criações e criaturas. O espírito sertanejo que está nas brenhas e nas metrópoles, na Canudos vista por Euclides da Cunha e no Assaré de Patativa. É sertão vivido e sertão inventado. Um livro de infinita sustança. Recomendo. Até a próxima.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.



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