Por um Cariri das delicadezas, não dos feminicídios

Foto: Shutter

Homens do Cariri, uni-vos na serenidade. Homens do Cariri, adeus às armas dessa macheza ignorante e sem futuro. Juízo, meus conterrâneos, nossa infâmia está indo longe demais. Com a morte da vereadora Yanny Brena, presidente da Câmara Municipal de Juazeiro do Norte, foram 27 assassinatos de mulheres em cinco anos. O berro das manchetes nacionais nos faz corar de vergonha.

Terra de uma delicadeza cultural extraordinária, o Cariri não pode ficar refém da doença machista da brutalidade. Sejamos homens à altura da dignidade de mulheres de Juazeiro, Barbalha, Missão Velha, Nova Olinda, Santana, Várzea Alegre, Potengi, Assaré, Altaneira... Sejamos homens, não sanguinários assassinos. Que machos são esses, capazes de eliminar vidas por um orgulho maldito.

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Homens do Cariri, a marca do feminicídio é uma desonra, precisamos nos livrar dessa praga. Não são meras estatísticas, nem vou mais citá-las, são histórias pesadas e inesquecíveis. Passem lá na praça da Sé, sim, ali no Crato, e façam pelo menos um gesto de solidariedade e respeito diante do banco em que a professora Silvany Inácio de Souza foi assassinada pelo marido Elson Siebra de Deus, na frente do filho, em 19 agosto de 2018 — em plena festa da padroeira da cidade, Nossa Senhora da Penha.

Façam um gesto, uma cerimônia mínima, e reflitam, lembrem-se que o assassino da professora foi condenado a 47 anos de cadeia, por homicídio qualificado e posse de arma de fogo. Assim como na maioria dos casos, ele não aceitava o possível fim do relacionamento. Um enredo de covardia e fraqueza que se repete com a macharada. Foi o mesmo que ocorreu no episódio do assassinato de Yanny Brena. O corredor de vaquejada Rickson Pinto, armado de um machismo doentio, matou a namorada e tirou também a própria vida.

Machos da área, nossa infâmia já foi longe demais. Lembrem-se que somos da terra de Benigna (1928-1941), a menina beatificada pelo Papa Francisco, em 2022. Com apenas 13 anos, ela foi morta, com golpes de facão, ao resistir a uma tentativa de estupro por parte de um agricultor na zona rural de Inhumas, povoado do município de Santana do Cariri.

O machismo mata no Brasil inteiro, óbvio, e é condenável em qualquer canto do planeta. Fiz questão, no entanto, da nossa conversa na calçada, de maneira regionalíssima, para que a gente consiga, urgentemente, mudar essa imagem. Por um Cariri das delicadezas. Como vemos nas peças de homens do calibre de Noza e Espedito Seleiro, para ficar apenas em dois dos nossos grandes mestres das artes e artesanatos.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.

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