A Bolsa de Valores diante da Bolsa de Valiosos e Valiosas

Legenda: A fala de Sílvio Almeida tem que ser repetida mil vezes
Foto: José Cruz / Agência Brasil

Todo respeito a quem só pensa na Bolsa de Valores, caríssimos homens de negócios ou apostadores iniciantes, mas é preciso ressaltar, todo santo dia, a criação da Bolsa de Valiosos e Valiosas do Brasil. Fez-se no verbo de Sílvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, e foi o grande acontecimento da primeira semana do governo Lula III.

No princípio era o óbvio, como advertiu o próprio ministro. A gente sabe, porém, como certas obviedades custam caro no Brasil — seja na feira de segunda a sexta ou nas especulações nervosas de mercadorias & futuros. As obviedades custam os olhos da cara. Ao ponto de certos “injustiçados brancos e héteros” reclamarem um lugar ao sol na fila da dignidade.

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A fala de Sílvio Almeida tem que ser repetida mil vezes e ficar por escrito em gazetas, tribunas e diários: "Vou dizer coisas óbvias aqui: Trabalhadoras e trabalhadores do Brasil vocês existem e são valiosos para nós; mulheres do Brasil, vocês existem e são valiosas para nós; homens e mulheres pretos e pretas do Brasil, vocês existem e são pessoas valiosas para nós; povos indígenas desse país, vocês existem e são valiosos para nós”.

A Bolsa de Valiosos e Valiosas não exclui a Bolsa de Valores, óbvio, mas é preciso que seja destacada nas manchetes tanto quanto o sistema nervoso do mercado. A Bolsa de Valiosos despenca na escala da humanidade e do humanismo, por exemplo, a cada “bala perdida” contra um jovem preto ou toda vez que as tripas roncam a sinfonia faminta na barriga das crianças.

E segue o novo ministro dos Direitos Humanos e Cidadania: “Pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, intersexo e não binárias, vocês existem e são valiosas para nós; pessoas em situação de rua, vocês existem e são valiosas para nós; pessoas com deficiência, pessoas idosas, anistiados, filhos de anistiados, vítimas de violência, vítimas da fome e da falta de moradia, pessoas que sofrem com a falta de acesso à saúde, companheiras empregadas domésticas, todos e todas que sofrem com a falta de transporte, todos e todas que têm seus direitos violados, vocês existem e são valiosos para nós".

Vale a vida até então invisível. Vale a lente do óbvio que ganhou significado e novidade com a posse do ministro. O maracatu de Sílvio Almeida, senhoras e senhores, pesa uma tonelada.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.



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