Nesses 73 anos de permanência, aqui, na Terra, confesso minha incapacidade de mensurar importantes acontecimentos para a história do País.
Ainda imberbe, não entendi o valor para autoestima do brasileiro da conquista da Copa do Mundo de 1958, na Suécia.
Quando o Brasil não passava de uma grande floresta, o futebol nos colocou no Mapa Mundi.
Debaixo de um sentimento de vira-latas, surgiu uma geração de ouro, com Garrincha, Didi, Pelé, Gilmar e Nilton Santos, verdadeiros santos dos meus altares.
Já trabalhava em rádio, no Crato, quando João Gilberto, um baiano de Juazeiro da Bahia, fez uma decantação da música brasileira, desacelerou o samba e criou um ritmo de gosto internacional, denominado de Bossa Nova.
A música "Chega de Saudade", gravada por João Gilberto me pareceu, à época, nada mais que um "sambinha".
Depois de muito tempo, fui compreender, um pouco, a dimensão daquilo tudo.
Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Ronaldo Bôscoli, Carlos Lira, Roberto Menescal e outros nomes notáveis participaram desse movimento musical.
João Gilberto influenciou vários compositores norte-americanos, na década de 60.
Frank Sinatra gravou um disco inteiro com obras musicais de Tom Jobim.
No período da "Redentora", tivemos a Tropicália e os grandes Festivais de Música Popular, com o aparecimento de Gil, Caetano, Tom Zé, Geraldo Vandré e Chico Buarque.
A Tropicália surgiu comprometida com a atualidade, fazendo uma releitura musical do passado, como combustível para o futuro.
Juntou tudo em um mesmo saco e revitalizou gênios da raça, como Luiz Gonzaga.
Fenômeno cultural que ditou comportamentos exatamente nos tristes anos de chumbo.
Em "Samba da Benção", Vinícius de Moraes, inclusive, diz que "sem um bocado de tristeza não se faz um samba, não."
Enfim, acontecimentos que sacudiram essa imensa Nação, coisas que só fui entendendo muito lentamente.
Mesmo assim, foi muito prazeroso passar por tantas emoções, através do futebol e da música.