Do baião à tropicália: a minha trajetória de discotecário

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Se não existisse mundo, existiria a música.

Para quem ouvir, não se sabe ao certo.

Das funções de que desempenhei no rádio (quase todas), uma que fascinou foi a de discotecário.

Manusear LPs, compactos e discos de cera me possibilitou apreciar a expressão da arte por meio da música.

Do reinado de Luiz Gonzaga e o seu baião, passando pelo samba-canção, bolero, rock, twist, iê-iê-iê, bossa nova e tropicália até as musicas de festival.

Legenda: Registro de Luiz Gonzaga, feito em Exu, para reportagem especial do Diário do Nordeste em agosto de 1984, por ocasião da indicação à comenda Sereia de Ouro
Foto: Capibaribe Neto

Gostei e desgostei de vários gêneros e acompanhei muitos movimentos musicais.

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Devo dizer que é enorme o saldo de grandes obras, assim como a relação do que teve a lixeira como destino.

Com respeito à critica musical, gostaria de fazer dois registros.

No “meu tempo”, “brega” era um termo que designava música de cabaré que, depois, passou a ser sinônimo de música de má qualidade.

Diríamos, exercitando a nostalgia (diferente de saudosismo), que o “brega” de Orlando Dias, Anísio Silva, Silvinho, Waldik Soriano, Núbia Lafayette e outros, era muito mais maneiro que do esse escrachado que aí está.

Esses cantores não precisavam de apelações para fazer sucesso, mesmo com temas que falavam de adultério, amores sofridos e outros lamentos.

Acrescentaria ainda o seguinte: Roberto Carlos confessou imitar Anísio Silva, antes de se encontrar como grande intérprete.

João Gilberto, o papa da bossa nova, adorava Anísio Silva e o seu jeito de cantar baixinho, para desespero dos bossanovistas.

Adiantaria mais que, no período das músicas mais rebuscadas dos festivais e, com o surgimento de letras mais elaboradas, tornou-se chique renegar a música nordestina em sua essência.

Coisa de intelectualoide, para se mostrar moderno.

Cultuar Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Ary Lobo, Marinês e Trio Nordestino era, para essa gente, um atraso cultural.

Felizmente, os tropicalistas Gil e Caetano e outros poucos da cena musical brasileira trataram de eliminar essa babaquice.

Acreditei, após a fase dos festivais iniciada na TV Record, que o nível musical do país pudesse se livrar da mediocridade, de uma vez por todas. Que nada. Com as exceções de praxe, chegamos a um momento crítico do que arremessam, diariamente, nos ouvidos do povo.

A música, como realmente foi concebida, vive seus estertores no Brasil, com o império dos “pancadões” do funk, das guarânias insossas (cantores parecem padecer de prisão de ventre, dado o esforço para cantar) e dos “forrós de plástico”.

As novas gerações tornaram-se “terrivelmente” dançantes e, pelas músicas, são induzidas a curtir somente o que faz rebolar.

Anita é um exemplo: se gosta mais dela do que de sua “música”.