Instalada quando o Brasil ainda vivia os efeitos de um dos piores momentos da pandemia, a CPI da Covid conseguiu atrair o interesse de milhares de brasileiros: em seis meses de reuniões, colecionou depoimentos acompanhados atentamente e, em mais de uma ocasião, abriu espaço para a participação popular.
Um mês após a entrega do relatório final das investigações aos órgãos responsáveis por tomar providências a partir do que veio à tona, porém, muito pouco houve de desdobramento.
Em um Brasil de memória curta, é preciso, portanto, relembrar denúncias graves da CPI da Covid.
Da crise de oxigênio em Manaus (AM) ao atraso do início da vacinação no Brasil, os senadores denunciaram que uma estratégia de contágio em massa teria sido adotada pelo Governo Federal sob o argumento de busca da imunidade de rebanho.
A comissão também afirma que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) atrasou a imunização da população brasileira ao negar as primeiras propostas de venda de vacinas, além de ter promovido tratamentos ineficazes contra a infecção causada pelo novo coronavírus.
Caso Covaxin
Recai sobre o chefe do Palácio do Planalto, ainda, a suspeita do crime de prevaricação no caso Covaxin, por não ter agido quando avisado pelo deputado federal Luís Miranda (DEM-DF) de que havia irregularidades no processo de aquisição da vacina indiana pelo Ministério da Saúde. A denúncia também envolveu a empresa Precisa Medicamentos.
Foi da CPI que saíram acusações envolvendo o plano de saúde Prevent Senior durante a pandemia – que vão da utilização de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19 à omissão da doença em atestados de óbito. Os trabalhos tiveram outros marcos ao longo de seis meses.
E depois?
O procurador-geral da República, Augusto Aras, que já sinalizou que algumas denúncias já estão em investigação, deve anunciar neste sábado (27) quais providências pretende tomar em relação às autoridades que constam no relatório final da CPI, o que incluiria um posicionamento sobre abrir – ou não - um inquérito contra Bolsonaro.
Em paralelo, integrantes do colegiado se preparam para entregar os resultados dos trabalhos ao Tribunal Penal Internacional, em Haia, enquanto a tropa de choque bolsonarista atua para tentar atribuir a senadores supostos crimes cometidos ao longo das investigações.
Com o Brasil de luto, as denúncias, contudo, não podem ficar sem respostas. A CPI fez muito barulho, mas até onde os gritos – e os silêncios – vão ecoar?