Cerca de R$ 1,8 milhão em divulgação dos mandatos em oito meses. Muito ou pouco? Ao medir o valor com a régua do orçamento apertado de milhares de brasileiros, o montante salta aos olhos, mas é preciso ir além do “quanto”: como foi gasto?
Fazendo jus ao ditado que diz que “quem não é visto, não é lembrado”, os deputados federais cearenses gastaram uma fatia expressiva da cota parlamentar em divulgação de ações de mandato. A garantia de presença nas redes sociais e o investimento em anúncios na internet despontam como destaques entre as despesas, mas não há nenhuma roda inventada nisso tudo.
Ainda em janeiro deste ano, o Diário do Nordeste também mostrou que, entre março e dezembro de 2020, a bancada do Ceará na Câmara dos Deputados poupou R$ 3 milhões em verba pública, mas cresceu significativamente no período o gasto com divulgação da atividade parlamentar.
Impactos da pandemia
Já àquela altura, o achado confirmava um dos impactos da explosão da pandemia de Covid-19 também na política. Muitos detentores de mandato precisaram intensificar a atuação na internet diante das limitações impostas ao fazer político pelo necessário isolamento social. Mais do que isso, contudo, o investimento se refletiu em um grau de profissionalização maior no uso das redes sociais.
Virou, não só em ano eleitoral, estratégia de sobrevivência. O que muitos já faziam precisou ser feito por (quase) todos.
Se há - e inegavelmente há - essa dimensão no investimento em ações que promovam os respectivos mandatos, o de manutenção e ampliação de capital político que se converta em votos, é preciso dizer também que, em muitos casos, o discurso de “aproximação” com a população se materializa na abertura de canais de diálogo mais efetivos.
Incentivo à participação?
O uso que alguns parlamentares têm feito das redes sociais mostra disposição a ouvir, a se conectar - e a prezar por transparência. Se não por iniciativa própria, por cobranças recebidas. Em votações e outras situações, cada vez mais rápido políticos buscam dar satisfações ao eleitorado.
O mito do incentivo à participação popular, porém, ainda prevalece em muitos exemplos. Também não é consenso a priorização das redes sociais nos gastos. Nem deve ser. Num País desigual como o nosso, em que não há como se falar em acesso universal à internet, é preciso chegar à população de diferentes formas.
Afinal, apesar de ser obrigação de todo representante do povo responder “como foi gasto?” o dinheiro público, é a população, no fim das contas, que vai julgar a resposta.