Nenhuma novidade no roteiro presidencial: na quinta-feira (10), Jair Bolsonaro (sem partido) disparou mais uma de suas “polêmicas” na pandemia. Falou que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, preparava um “parecer” para desobrigar o uso de máscara no Brasil. Valeria, segundo ele, em duas situações: para quem já foi vacinado contra a Covid-19 e para quem já teve a doença.
Não demorou para que a declaração, mais uma vez, gerasse reações diversas, de políticos a cientistas, de famosos a anônimos. O governador cearense, Camilo Santana (PT), foi às redes sociais para dizer que o uso do equipamento de proteção individual continua sendo necessário diante da gravidade da crise sanitária.
Enfático, ele sustentou que qualquer orientação contrária a isso é “inconsequente” e “deve ser ignorada”. O prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), também se manifestou.
Momento ainda é grave
Embora o ministro Queiroga, ainda na quinta, tenha sido mais comedido ao tratar do assunto, afirmando que, por enquanto, será feito apenas um estudo, a pedido do presidente, para avaliar a medida, o momento não é adequado para tal discussão.
A vacinação ainda está longe de alcançar a grande maioria da população brasileira; o Brasil ultrapassou, no mesmo dia da declaração do presidente, a marca de 480 mil mortes causadas pela Covid-19. São fatos que alicerçam alguns dos argumentos apontados por especialistas. Há outros.
Só na quinta, foram registrados 2.504 óbitos em decorrência da doença, segundo o Ministério da Saúde. Realidade bem diferente da que é vivenciada em outros países, onde o uso da máscara tem sido flexibilizado.
Discurso agora é outro
Já nesta sexta (11), também nenhuma novidade no script: Bolsonaro mudou o discurso. Disse, agora, que a decisão de desobrigar o uso de máscara nas duas situações citadas no dia anterior caberá a Marcelo Queiroga, a prefeitos e a governadores. “Eu não apito nada, né?”, afirmou.
A declaração do presidente é um desserviço ao debate público, que em nada agrega ao enfrentamento à pandemia no momento. Não só a primeira fala, mas também a já conhecida estratégia da "polêmica" localizada entre o dito e o não dito. Ao estilo "se hoje é uma coisa, amanhã não é bem assim".
As reações, fica claro, parecem também fazer parte da estratégia do chefe do Palácio do Planalto. Mais uma vez, ele se vale do cargo para agendar uma pauta completamente inoportuna, com a intenção evidente de beneficiar ninguém mais além de si mesmo.
No Brasil de 2021, o óbvio, muitas vezes, precisa ser dito, repetido à exaustão. Mas é preciso não dar a "polêmicas" fabricadas o peso, a dimensão que elas não têm. As necessidades, definitivamente, são outras.
Dito isto, não custa lembrar: máscaras ajudam a salvar vidas.