Será que o ChatGPT entende mesmo da política cearense? Confira o teste

A coluna pediu para o aplicativo contar um pouco sobre o histórico de figuras da cena política do Ceará

Legenda: A coluna testou o aplicativo com a trajetória de políticos cearenses
Foto: Jefferson Rudy/José Leomar/Thiago Gadelha

O ChatGPT chegou causando preocupações, críticas e estranhamentos da sociedade intelectual por conta das consequências que esse novo mecanismo de texto e imagem poderia trazer às rotinas – do ponto de vista social e econômico. 

O robô se propõe a produzir textos sobre os mais variados assuntos. Testes estão sendo feitos mundo afora, muito também pela desconfiança que o chatbot causa a quem não está nada acostumado com uma ferramenta tão ousada. 

Nas últimas semanas, nós jornalistas do Diário do Nordeste, estivemos nos desdobrando para explicar ao leitor cearense, principalmente, as razões que desencadearam a crise no PDT. 

Se por um lado o factual impõe uma produção mais direta e sistematizada, quando se fala ou se escreve sobre política a contextualização sempre é exigida para contar a história em sua totalidade – ganhando protagonismo nesse conjunto de informação. 

E por falar de contexto, na rotina da produção nossos jornalistas precisam rememorar a novelinha que a política constrói como ninguém. Das vitórias e derrotas eleitorais, filiações partidárias, brigas e alianças. 

Cito um exemplo: não se pode falar de Cid Gomes hoje, por exemplo, sem lembrar que em 2006 ele foi eleito governador do Estado em primeiro turno. De lá pra cá, se tornou referência política no Estado para o seu extenso grupo político, apesar de passar por vários partidos. 

Pensando em uma colaboração do ChatGPT para essa produção tão intensa, testei o sistema de produção de texto para me auxiliar na construção das matérias. Será mesmo que o ChatGPT me ajudou ou atrapalhou? 

Vamos conferir

Pedi ao ChatGPT para comentar um pouco sobre as principais lideranças envolvidas na crise do PDT no Ceará. Começamos pelo senador Cid Gomes (PDT), que deu "conselhos" ao prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), e alfinetou o irmão Ciro Gomes e o ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) nessa semana. 

Cid Gomes 

O chatbot fez um resumo de cinco parágrafos sobre a trajetória de Cid Gomes. Um trecho do texto produzido afirma que "Cid Gomes é um político brasileiro nascido em Sobral, no estado do Ceará, em 1963. Ele é formado em Economia pela Universidade Federal do Ceará e iniciou sua carreira política como prefeito de Sobral, entre 1997 e 2004". 

Se eu não conhecesse a trajetória do senador certamente cairia em dois erros afirmados pelo robô. Cid, na verdade, é formado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Ceará, e não em Economia. Outra informação errada é que o pedetista teria iniciado a carreira política como prefeito de Sobral em 1997. Cid assumiu uma cadeira de deputado estadual em 1991. 

Em um novo equívoco, o robô diz que "Cid Gomes também foi eleito senador pelo estado do Ceará em 2018, pelo partido PDT, mas deixou a legenda em 2020 para se filiar ao Partido Socialista Brasileiro (PSB)". O senador permanece no PDT, e não deixou o partido para se filiar ao PSB. 

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Ciro Gomes 

Também solicitei ao ChatGPT um breve texto sobre Ciro Gomes. Experiente, o político já foi prefeito, governador, ministro e deputado. O cearense também foi candidato à presidência da República por diversos partidos. 

Confesso que o robô melhora o percentual de acertos quando se trata de Ciro, ao invés de Cid. No entanto, comete falhas básicas e fáceis de checagem em um rápido clique na internet. 

Perceba o erro: "Ciro Gomes iniciou sua carreira política em 1982, quando foi eleito deputado estadual pelo estado do Ceará. Posteriormente, foi eleito prefeito de Fortaleza em 1988, governador do estado do Ceará em 1990 e 1998, e deputado federal em 2002. Ele também foi ministro da Fazenda do governo Itamar Franco em 1994 e ministro da Integração Nacional do governo Lula em 2003". 

Na realidade, o cearense foi candidato a governador apenas uma vez, em 1990. No ano de 1998, Ciro foi candidato a presidente do Brasil, e não a governador.  

Outra informação falsa registrada pelo robô é que Ciro teria sido candidato a deputado federal em 2002. Neste ano, o político foi novamente candidato a presidente. Ciro foi eleito deputado federal em 2006. 

Roberto Cláudio 

O chatbot também repetiu um erro fácil de detectar quando foi questionado sobre a trajetória do ex-prefeito Roberto Cláudio. Ele afirma que o pedetista nasceu em 1976, quando na verdade o ex-prefeito nasceu no dia 15 de agosto de 1975. 

Apesar do erro, o aplicativo tem acertos interessantes quando, por exemplo, aponta os anos das candidaturas de Roberto Cláudio e os partidos pelos quais ele concorreu às eleições. 

"Em 2012, Roberto Cláudio se candidatou à prefeitura de Fortaleza pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) e venceu as eleições no segundo turno, derrotando o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT). Ele foi reeleito em 2016 pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT)". 

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José Sarto

Outro personagem interessante dessa crise no PDT é o prefeito de Fortaleza, José Sarto. Pedi ao ChatGPT que comentasse um pouco da trajetória do prefeito. O resultado? Muitas informações equivocadas. 

O texto garante que a carreira política do prefeito foi iniciada em 1992 quando eleito vereador pelo PT. Segundo a própria biografia do gestor, que está pública no site da prefeitura de Fortaleza, Sarto iniciou a carreira política em 1998 ao ser eleito vereador na Capital cearense. Também não há registros de que o gestor tenha se filiado ao PT. 

"Sua carreira política teve início em 1992, quando foi eleito vereador de Fortaleza pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Em 1996, ele foi reeleito para o mesmo cargo". 

O robô entrega outra informação errada, a de que "em 2000 (Sarto) foi eleito vice-prefeito de Fortaleza na chapa de Luizianne Lins, também do PT". 

Como se sabe, em 2000 Luizianne foi reeleita vereadora de Fortaleza. A petista foi candidata à prefeita só em 2004, e completava a chapa o vice Carlos Veneranda, do PSB, e não José Sarto. 

O que se conclui? 

Em uma pesquisa rápida, é possível afirmar que o ChatGPT quase nada sabe da política cearense. O sistema vai precisar de uma evolução na sua configuração para entregar um conteúdo sem erros graves como os identificados pela coluna, e que mais confundem do que informam. 



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