Presidência da República: qual cenário 2021 deixa para a disputa eleitoral do próximo ano

Os principais fatos políticos que redesenharam o cenário eleitoral para 2022

Legenda: Fatos políticos de 2021 indicam cenários para o processo eleitoral de 2022
Foto: Abdias Pinheiro/SECOM/TSE

O ano pré-eleitoral de 2021 foi bastante movimentado e surpreendente. Reviravoltas redesenharam o cenário político que o Brasil vai enfrentar nas urnas em 2022. 

É esperada uma disputa presidencial dura e ao mesmo tempo histórica tendo em vista os tempos que estamos vivendo, quando as instituições democráticas são ameaçadas por diversas frentes e a ordem institucional é testada a todo momento. 

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É olhando para o ano eleitoral que a coluna vai elencar cinco pontos que, herdados de 2021, serão fundamentais para direcionar os próximos episódios de 2022. 

Lula-Alckmin 

Então adversários históricos, o ex-presidente Lula e o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, se aproximaram em 2021 com planos nacionais para o pós-bolsonarismo.  

Perdendo espaço nacional, quando terminou com apenas 5% dos votos válidos na disputa presidencial de 2018, Alckmin também foi escanteado no PSDB, ao perder terreno para o atual governador de São Paulo, João Dória. 

Fora do partido que militou por 33 anos, Geraldo agora namora com o PSB. A expectativa é que a filiação seja para confirmar também a chapa inusitada entre o ex-tucano e o petista para a disputa presidencial de 2022. 

O assunto já extrapolou os bastidores e está no mundo político. Alckmin e Lula inclusive já apareceram juntos publicamente em ato organizado pelo Prerrogativas. 

Experientes, ambos não batem o martelo nem negam a possibilidade. As conversas seguem e a aliança pode se firmar depois de fevereiro, que é quando o cenário político fica mais claro.  

Essa aproximação foi a principal novidade política de 2021 tendo em vista a necessidade de transmitir uma mensagem ao eleitorado de que "democratas", embora diferentes ideologicamente, estão unidos contra o que representa o projeto do presidente Jair Bolsonaro (PL). 

Sergio Moro 

Uma dessas reviravoltas é a imagem do ex-juiz Sergio Moro no cenário político. Atuando em Curitiba no caso da condenação e prisão do ex-presidente Lula, o então magistrado pediu demissão do Ministério Público e virou ministro de Jair Bolsonaro (PL). Depois de romper com o presidente, deixou o país e foi morar nos Estados Unidos. 

Em 2021, voltou ao Brasil, se filiou ao Podemos e foi lançado como pré-candidato a presidente da República. O lançamento foi tomado por uma estranha euforia. Pesquisas de intenção de voto colocaram o ex-ministro em terceiro lugar na corrida eleitoral, mas ainda sem ameaçar o segundo lugar de Jair Bolsonaro. 

O desafio de Moro é conseguir encorpar a chamada terceira via, opção de voto para quem não deseja apostar em uma reeleição de Bolsonaro nem quer a volta de Lula ao Planalto. Enquanto isso não acontece, ainda tenta descolar de Ciro Gomes (PDT) quando o assunto é pesquisa de intenção de voto. 

Ciro Gomes 

Falando em Ciro Gomes, o cearense, apesar de não ter reagido nas pesquisas, ainda não está fora do jogo. Essa será a quarta vez que o ex-ministro disputará a presidência da República. 

O discurso de ataque a todas as candidaturas tenta fazer do cearense um nome viável para não voltar ao passado (Lula) nem continuar no cenário atual (Bolsonaro). O PDT contratou o ex-marqueteiro do PT, João Santana, para ajudar no processo. 

A demora para reagir nas pesquisas de intenção de voto acabou gerando uma leve crise interna no fim de 2021. Pedetistas colocaram prazo para a reação de Ciro nos levantamentos.  

O crescimento de popularidade é visto como fundamental para a sobrevivência do PDT no Legislativo nacional e também como forma de aglutinar partidos para se ajuntar ao projeto presidencial. Em 2018, isso não ocorreu, e o PDT saiu de chapa pura. 

Bolsonaro e centrão 

Crítico do centrão apenas durante a campanha eleitoral de 2018, Jair Bolsonaro passou a vida política inteira em legendas desse espectro ideológico. Coerente, voltou a integrar o centrão com direito à ficha partidária. Depois de dois anos sem legenda, o presidente entrou nas fileiras do PL

A decisão de Bolsonaro ocorreu após o fracasso da criação do Aliança Brasil. Sem partido, precisou dialogar com os seus aliados até os 45 minutos do segundo tempo para encontrar um acordo de qual partido seria melhor para disputar a reeleição. 

Não só voltou ao centrão, como loteou os ministérios com indicados de partidos que não se definem ideologicamente no Congresso Nacional. Bolsonaro entendeu a importância da governabilidade e entregou cargos – por mais que lá em 2018 negasse qualquer postura similar. 

Orçamento secreto 

Adotada pela primeira vez em 2019, a indicação das emendas de relator é uma modalidade que dá mais poder de decisão aos deputados e senadores sobre como o dinheiro do orçamento público gerido pelo Governo Federal vai ser direcionado. É como se o Executivo delegasse parte da responsabilidade ao Legislativo para a condução das ações orçamentárias. 

O novo modelo acabou sendo inaugurado na gestão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e acabou "premiando" a base governista na votação de matérias cruciais, além de ajudar na sustentação do Governo. 

Para 2022, ano eleitoral, foi reservado dentro do orçamento a cifra de R$ 16,5 bilhões para que parlamentares decidam como o recurso será investido nos municípios. A principal preocupação é o fato de não haver transparência para a implementação desse dinheiro. 

Há o risco de municípios administrados por lideranças ligadas ao Governo Federal serem beneficiados de forma exagerada em relação aos outros sem a mesma ligação. Em um cenário eleitoral, o orçamento secreto vai fazer muita diferença na busca pelo voto.



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