Mansueto alerta para desequilíbrio fiscal insustentável: “País não vai aguentar”

Escrito por
Victor Ximenes producaodiario@svm.com.br
Legenda: Ao comentar o cenário regional, Mansueto elogiou o desempenho do Ceará na educação.
Foto: André Lima / Divulgação

Em palestra no Lide Ceará nesta sexta-feira (14), em Fortaleza, o economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida, fez um diagnóstico direto: apesar dos avanços estruturais dos últimos anos, o Brasil enfrenta um problema fiscal sério, que precisa ser enfrentado com urgência para evitar juros permanentemente altos e limitar o potencial de crescimento do País.

“A questão fiscal precisa ser resolvida. O país não vai aguentar a dívida crescendo continuamente”, afirmou.

Segundo ele, mesmo com a economia dando sinais de resiliência em diversos setores, o descontrole das despesas públicas vem pressionando a dívida e intensificando a necessidade de juros muito acima do razoável. 

Gasto crescente pressiona dívida e juros

Mansueto lembrou que, apenas entre 2023 e 2026, o gasto federal terá um crescimento real estimado em 17%, quase o dobro da expansão registrada nos oito anos anteriores (9%).

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Apesar de sucessivos aumentos de arrecadação, a trajetória não fecha. A dívida pública, que era 72% do PIB no início do atual governo, deve terminar o período em 82%; o investimento federal permanece mínimo, com cerca de R$ 65 bilhões ao ano, em um orçamento superior a R$ 2,3 trilhões.

Programas sociais mais onerosos também pressionam o caixa. Mansueto destacou a expansão do Bolsa Família, que custava até R$ 40 bilhões ao ano antes de 2019 e hoje supera R$ 160 bilhões, além da vinculação automática de aposentadorias ao salário mínimo — algo que, segundo ele, nenhum outro país faz.

“Não existe recessão à vista, mas o juro vai continuar muito alto”

Com a Selic em 15% e inflação esperada de 4,5%, o juro real brasileiro chega próximo de 10%, nível raríssimo no mundo.  “Nós teremos dois anos de juros muito altos. É consequência direta da expansão do gasto público.”

Mansueto foi categórico ao projetar 2027: qualquer que seja o novo presidente — continuidade ou mudança — terá de apresentar uma regra clara de contenção de gastos. Não se trata, disse, de cortes abruptos, mas de limitar o avanço real da despesa, como fez o governo Temer.

Ele lembrou que, em 2016, quando foi estabelecido um teto para o gasto federal, a inflação caiu rapidamente e a taxa básica recuou de 14,25% para 6,5% em apenas dois anos.

“Se o próximo governo mostrar que vai controlar o crescimento do gasto público, os juros caem rápido e o país pode ter quatro anos de crescimento forte.”

Ceará como exemplo

Ao comentar o cenário regional, Mansueto elogiou o desempenho do Ceará na educação, citando instituições como o Farias Brito e o modelo de Sobral, e o potencial turístico do Estado, impulsionado por praias de água morna durante todo o ano.

Ele afirmou ainda que a chegada de data centers e novos investimentos no Nordeste é consequência direta das reformas dos últimos anos e do fato de a região não estar exposta a conflitos geopolíticos.

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